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Mensagens

A mostrar mensagens de 2012

Vezes dois

Multiplicamo-nos os sentidos, somos o dobro de tudo, duas vezes mais que ontem e duas menos que amanhã. Sombra e sol que se fazem existir mutuamente, que se contrariam e anulam, igualando todas as palavras deste mundo. Somos cores raras, brilhamos no mais negro dos escuros e, ainda assim, iluminamos o caminho de quem acredita, de quem nos segue como exemplo, como força. Força de resistência treinada para sobreviver a ventos semeados e tempestades colhidas, ao estilo do provérbio. Somos a bonança que vem depois e dá de novo lugar ao sol e à sombra, num dueto melódico, digno de esgotar coliseus. Gostamos de gostar de nós e temos razões para isso. Temos duas vezes mais razões que naquele dia. Aprendemos que mais com mais da mais. Essa positividade que nos atravessa tem altos e baixos, como a sombra e o sol. Mas, tal como eles, volta a cada dia porque nada pode impedir a ordem natural das coisas. Esta chama arde e vê-se, não é como aquela outra do poema. Não rimamos, não temos de

Paixonetas

O que vos lembra a palavra paixoneta? Bem, para começar, eu adoro o termo. Soa mesmo a palavra típica da Língua Portuguesa. Não há cá flirts , crushes , talões ou outras complicações . Paixoneta faz-me lembrar salmonete, o peixe que aspira a salmão, tal como a paixoneta aspira a paixão, tal como o aspirador aspira o chão. Peço perdão pelo trocadilho. Amigos como antes? As paixonetas têm muito que se lhes diga. Na verdade, são como o metro: estão sempre a passar. Há noites em que também acabam à uma e voltam às seis, numa ou noutra mensagem já com os copos. E além disso, há mesmo dias em que fazem greve, enquanto do outro lado alguém mais desprevenido manda tudo para o carvalho e pergunta “que culpa tenho eu?”. De facto, as paixonetas, como os treinadores dizem das estatísticas, valem o que valem. Uma paixoneta não permite amar, apenas deixa gostar, não faz chorar mas põe-te a arfar. Rima digna de um manjerico dos santos populares. Numa paixoneta não há traições porque ni

Sensores

As pes soas deviam ter sensores de estacionamento como os carros. Pimba! Eu gosto de começar os textos de forma sucinta e direta (Mentira, era só porque estava desejoso de usar a palavra “sucinta”, pessoalmente acho-lhe piada). Mas onde é que eu ia… Ah, as pessoas deviam mesmo ter esses sensores. Algo que lhes permitisse saber onde encaixar, saber onde pertencem. Algum aparelho que lhes diga que é ali e não além. Basicamente saber se cabe ou não cabe! – não comecem já a pensar em coisas perversas – Afinal, tudo na vida se pode resumir a isso! É aqui? Ou não? Os sensores iam realmente ajudar-nos. Pi pi pi sai daí que ainda te aleijas… Pi pi pi não te metas com essa miúda que não é boa gente… Pi pi pi não comas isso que te faz mal… Pi pi pi está na hora de ir para casa que amanhã é dia de trabalho… Pi pi pi… ai não, agora foi só um carro lá fora. Chegamos a lugares novos, desconhecidos, onde nos temos de integrar. Olhamos para um lado e para o outro. Às vezes até sentimos q

Luís Simões - um homem de L a S, mas que por vezes veste XL (parte VII)

Recapitulando. O ser esplêndido que vos fala tinha acabado de dar um grande passo na sua vida. Estava finalmente no caminho que considerava ser certo: jornalismo. E lá fui eu no primeiro dia, subindo a avenida dos arcos, com a pasta debaixo do braço, sinal de que os tempos de caloiro já eram apenas memórias. Vi pela primeira vez as faces que me iam acompanhar nos três anos seguintes: “Olha-me aquela miúda ali, é um doce! Aquele gajo tem mesmo cara de rufia!” E nesse dia viria a cometer um erro muito, muito grande – ora toma Luís Simões que é para aprenderes – relativamente à praxe. Ora esta reconhecida besta quadrada teve o seguinte momento de insanidade: “bom. Eu já fui caloiro, já fui praxado, não preciso disto outra vez, vou passar esta fase à frente, adeus e até mais logo, que vou antes jogar um PES para casa.” Meninos e meninas que eventualmente me estejam a ler, em idade de entrar para a universidade, NÃO FAÇAM ISTO! Ou terão 20 anos de azar em que todos os dias acordarão c

Beira-Morte

O sangue é tão quente que quase derrete o que resta da linha contínua. É triste. Escorre lentamente para a terra. Tão, tão lentamente como o respirar que se ouve ao fundo. É tão lento. Parece calmo. Como o sangue que escorre de lá para a terra. Ninguém passa, ninguém vê, ninguém sabe, ninguém ouve. Pisca a apaga de vez a última luz. Está escuro. Como o sangue dele que escorre para a terra. Não consegue falar. Uma única palavra que seja. Emite tanto som como o sangue que lhe sai de todo o corpo e escorre para a terra. Cheira a qualquer coisa. A gasolina jorra aos soluços do depósito, como o sangue que por baixo do luar se vai acumulando na terra. Misturam-se. Combustíveis de homem e máquina, incompatíveis como homem e máquina, frágeis como homem e máquina, que abandonam agora homem e máquina às suas sortes, aos seus azares, ao seus desnortes, às suas mortes. Há cortes na árvore cá atrás. A seiva escorre no escuro, lentamente, qual sangue gasolina, até à terra que a há de com

Almoço de família

Há três coisas que acredito piamente que nunca acabarão em Portugal: 1 – o Benfica 2 – o Preço Certo 3 – os almoços de família                 Deixando o Benfica e o Preço Certo de lado, falemos pois do terceiro item, também ele um muito popular como o primeiro, e onde quem manda é o mais gordo, como o segundo.                 Eu gosto dos almoços de família e acho que todos os portugueses também. E desde logo porque ocorre no timing exato. Caso se tratasse de um pequeno-almoço, jantar, ou mesmo uma bucha, um mata-bicho, um lanche, uma ceia, uma merenda ou simplesmente uma “peça-de-fruta-a-meio-da-manhã-que-faz-muito-bem-àquele-colesterol-mau-que-ainda-na-semana-passada-estava-quase-a-300” de família, não seria a mesma coisa.                 Até como desculpa serve para as mais variadas situações: “Amooor, amanhã levas-me ao chinês?” “Não posso, bebé, tenho almoço de família” – e a coisa passa sem grande alarido. Mas caso tivéssemos dito “jantar de família”, ser

"Isto já não é o que era!"

Diz o idoso quando está com uma moça meio século mais nova. Diz o meu pai ao ver a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos. Dizem os emigrantes portugueses do Luxemburgo. Dizem os fãs dos Metallica. Diz a namorada prestes a acabar com o pobre rapaz. Diz Schumacher na Fórmula 1. Diz Miguel Relvas sobre o ensino superior. Dizem os estudantes na Queima das Fitas. Dizem os antigos nas festas da terra. Dizem os homens sobre a Angelina Jolie. Dizem os ursos polares sobre a Gronelândia. Dizem os amantes do Fado. Dizem os moradores do Cacém. Diz o turismo do Algarve. Diz o visitante da Feira de S. Mateus. Dizem os putos sobre os Morangos. Diz o ancião sobre o estado do tempo. Diz Zé Pedro recuperado dos vícios. Diz a ASAE enquanto fecha o estaminé. Dizem os comerciantes tradicionais. Diz Carlos Cruz ao ver as “suas” crianças já crescidas. Dizem os pescadores. Diz um guia turístico no Ground Zero. Di

Pergunta:

Qual dos seguintes acontecimentos é mais provável observar em Portugal? Justifique. a) Relvas a cortar anos durante a licenciatura. b) Licenciados a cortar relvas durante anos.

Em ti

Estou deitado, de mãos entrelaçadas atrás da cabeça. Se alguma luz houvesse neste quarto, era possível ver os meus dentes, os meus olhos, enfim, a minha cara. Não há luz, não se reflete a luz. Mas reflete-se a felicidade. Estou feliz sim. E muito. Vê-se nos meus dentes, nos meus olhos, enfim, na minha cara. Feliz pelo que sinto, e sei que sinto. Passa-me do coração à cabeça, e volta novamente. São voltas descontroladas pela velocidade da batida, pelo calor do sangue, pelo sorriso com que os dias me acenam por esta altura. De facto, se houvesse luz, talvez conseguisse ver a minha própria imaginação, onde o aroma que tens dança ao meu redor, ora calma, ora desenfreadamente, para delírio das minhas mãos que teimam em abraçar-te mais e mais. És tu. És tu mesma. A chave daquele cadeado que cerca as minhas emoções. Consegues libertá-las, consegues sê-las. E num ápice, passam em fila na minha mente fotos nossas, nas quais estamos incrivelmente juntos, colados, unidos, eu a ti e

1+1+1+1=

Pois é. O pequeno Digo-te é já um homenzinho! Parece que ainda foi ontem que deu os primeiros passos, disse as primeiras palavras e bolçava a cada palmadinha nas costas depois do biberão da manhã. O raio do petiz completa hoje quatro primaveras, todas elas recheadas de alegrias e alergias aos pólenes das árvores. Nasceu há numa época em que Portugal não conhecia a palavra troika, e não seguia austeramente os passos de um coelho (porque Saviola só viria para o Benfica no ano seguinte). Corria o dia 21 de maio de 2008 quando o Chelsea perdeu a final da Liga dos Campeões com o United, nas grande penalidades. Como os tempos mudam… E de repente, sem que nada o fizesse prever, nasce o pequeno Digo-te , precoce, com apenas 28 semanas, que por pouco não foi parar à incubadora. Do cordão umbilical sobrou apenas o hífen que separa o “ Digo ” do “ te ”, carinhosamente apelidado de “tracinho”. O frágil Digo-te , amparado por seu pai, foi crescendo e vingando neste mundo de cobras,

O que conta

O que conta não é a quantidade, é a qualidade. O que conta não é a aparência, é o interior. O que conta não são as letras gordas, são as pequeninas. O que conta não é o talão, é a fatura. O que conta não é a marca, é o preço. O que conta não são os ausentes, são os que estão. O que conta não é o passado, é o presente. O que conta não é como começa, é como acaba. O que conta não é a velocidade, é a perfeição. O que conta não são as suspeitas, são as provas. O que conta não é o remate, é o golo. O que conta não são as palavras, é o resultado. O que conta não é o vencido, é o vencedor. O que conta não são os outros, sou eu. O que conta não é o maior, é o melhor. O que conta não é o ás, é o trunfo. O que conta não é a força, é a técnica. O que conta não é o tamanho, é a habilidade. O que conta não é o powerpoint, é o orador. O que conta não é a caligrafia, é o que se escreve. O que conta não é a forma, é o conteúdo. O que conta não é o primeiro copo, são os outros. O que conta não é o per

Vítor vs Álvaro

Vítor Gaspar e Álvaro Santos Pereira fazem-me lembrar um casal de namorados ao telefone, a ver qual dos dois desliga primeiro. E se o Ministro das Finanças está preocupado com o saldo do telemóvel, já o Ministro da Economia não se entende com ele, talvez devido ao sotaque luso-canadiano, estilo Nelly Furtado. Nos últimos dias tenho assistido com muita curiosidade ao desenrolar da batalha entre Gaspar e Santos Pereira. Não estivesse o país em crise e penso que o governo deveria distribuir pipocas e óculos 3D, porque este é um daqueles filmes que só não levou uma estatueta para casa por ser uma comédia romântica. Desliga tu! Não, não, tu primeiro! Então vá, vou contar até 3 e desligamos os dois. Um… dois… três! … Aaaaaaaaaahh, eu sabia! Embora neste caso seja mais: Corta tu! Não, não, eu já cortei o subsídio de Natal! Então vá, vou contar até 3 e cortamos os dois. One… two… Fala-me em português! Tens a mania que vens lá das Américas! Tu não fales mal d

O outro lado

Aprendemos desde miúdos que até uma bola tem dois lados. E é assim neste mundo bilateral que crescemos e vamos observando o mundo. Mas porque raio todas as coisas têm de ter dois lados? Sem nos apercebermos, estamos completamente fartos, enfadados, aborrecidos com o facto de a vida ter sempre os mesmos dois lados. Por um lado isto, por outro lado aquilo. Andar sempre de um lado para o outro. Ver o outro lado das coisas. Existir sempre um lado direito e um lado esquerdo. Um lado de fora e um lado de dentro. Um lado de cá e um lado de lá… Dou comigo a pensar: e se isto não fosse assim? Se houvesse mais que dois lados? Sem querer estar aqui a gabar-me de ser um esplêndido visionário – que sou – não posso deixar de pensar que um dia, quando enfrentar uma entrevista de emprego com esta mentalidade, serei imediata e precocemente excluído do processo, como quem perde 5-0 em casa na primeira mão da eliminatória. Porquê? Porque o empregador quer mais do que dois lados:

O gordo vai à baliza!

Quem nunca disse esta pérola na escola primária? Talvez o Zé Mudo, mas até esse se exprimia com gestos bem evidentes. Contudo, não vou falar propriamente de gordura no futebol, mas sim de outra condição que nos põe igualmente a arfar: estar apaixonado. E o ponto onde quero chegar é este: estar apaixonado é ser o gordinho da equipa. Eu explico-me. Vamos supor que somos o tal gordinho. Tudo começa na escolha das equipas: “O gordo vai à baliza!”. Bem, não era propriamente o que queríamos fazer, mas se os outros têm direito a jogar, nós também temos. Vamos à luta! Todos os males vêm por bem e se estamos nessa posição, é porque existe um motivo para isso! No início chega a parecer que aguentamos tudo, que não vamos deixar entrar nenhuma bola na baliza. Leia-se, que nenhuma seta do cupido nos consegue trespassar o miocárdio. Mas, quase sem darmos por isso, alguém nos finta com toda a classe, e pumba, já lá mora um golo, já não podemos fazer nada, é tarde demais, aqui-d’el-rei, que

Wikicena

Como bom português que sou, e estando fora do meu país, lá vou tendo um ou outro sonho onde estou numa esplanada, com 25 graus, acariciando uma mini 26 graus mais fria que a temperatura ambiente, enquanto espero pelo pires de tremoços que o empregado se esqueceu. De facto, adoro tremoços, essa iguaria dos deuses que antes até era oferecida na compra de umas rodadas. Mas, como diz o meu pai, ninguém dá nada a ninguém, e agora também o tremoço e o seu meio-irmão amendoim são pagos a peso de ouro. Ora, andava eu por essa internet fora e decidi pesquisar um bocadinho sobre o tremoço, fazendo jus à velha máxima “ os olhos também comem ” (lembrei-me agora que este lema também é válido para a pornografia. Curioso… A ver se não me esqueço disto). Mas lá fui investigando sobre o tremoço, e naturalmente, recorri à mesma ferramenta que Deus utilizou para pesquisar antes de fazer o mundo, que isto de criar tudo o que existe em apenas 7 dias dá mais trabalho do que se pensa. Note-se, ainda