Estou deitado, de mãos entrelaçadas atrás da cabeça. Se alguma
luz houvesse neste quarto, era possível ver os meus dentes, os meus olhos,
enfim, a minha cara. Não há luz, não se reflete a luz. Mas reflete-se a
felicidade. Estou feliz sim. E muito.
Vê-se nos meus dentes, nos meus olhos, enfim, na minha cara.
Feliz pelo que sinto, e sei que sinto. Passa-me do coração à cabeça, e volta
novamente. São voltas descontroladas pela velocidade da batida, pelo calor do
sangue, pelo sorriso com que os dias me acenam por esta altura.
De facto, se houvesse luz, talvez conseguisse ver a minha própria
imaginação, onde o aroma que tens dança ao meu redor, ora calma, ora
desenfreadamente, para delírio das minhas mãos que teimam em abraçar-te mais e
mais.
És tu. És tu mesma. A chave daquele cadeado que cerca as
minhas emoções. Consegues libertá-las, consegues sê-las. E num ápice, passam em
fila na minha mente fotos nossas, nas quais estamos incrivelmente juntos,
colados, unidos, eu a ti e tu a mim. E as fotos ultrapassam-se umas às outras
como se estivessem numa via rápida, rumo a um destino marcado pelo sabor
intenso e apaixonado. Pela direita, pela esquerda, interessa é passar, é
chegar, é mostrar-se. Interessa é marcar este e aquele momento, em que estamos
bem. E como eu gosto de estar bem. Como eu gosto de pensar no que vamos
repetir, em tudo o que ainda temos, em tudo o que ainda falta. Como eu gosto de
pensar que ainda nos sobram uns anos, uns dias, uns segundos. Como eu gosto de
pensar que ainda estás aqui.
Como eu gosto de pensar que ainda não te larguei desde que
vim embora.
Comentários