Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de 2018

Uma questão de fé

Qual é, afinal, o poder da fé ? Que diferença faz acreditar muito ou pouco? Até que ponto querer é poder? Podia continuar por aí fora a fazer questões ao estilo Fátima Campos Ferreira e sugerir o tema à produção do Prós e Contras. Provavelmente até já houve um programa sobre isto e até deve ter dado uns vídeos giros para o Youtube. Mas hoje é a minha vez de escrever sobre a fé. Convido os caríssimos leitores a  responderem: são homens e mulheres de fé? Estão a ver, a resposta é mais difícil do que parece. Diz-me um dicionário que fé é a “adesão absoluta do espírito àquilo que se considera verdadeiro”. Aqui começam os problemas e vamos dissecá-los em três partes. A adesão absoluta Ter uma opinião fortificada e à prova de ventos, modas e outras visões tem tanto de admirável como de perigoso. Também eu sou teimoso naquilo que defendo mas reconheço que por vezes é preciso escutar. Uma posição ganha mais força quando reforçada pela análise das opiniões concordantes mas t

Furacão Leslie e a tempestade Bolsonaro

O furacão, tempestade, enfim, ventania da grossa passou por cá e deixou uma parte do país de saias levantadas. E, como sempre acontece quando uma cuequinha fica à mostra, há sempre quem deite o olho e aproveite para troçar. O fenómeno chamou-se Leslie mas bem poderia chamar-se Bolsonaro , porque são deveras semelhantes . Os alertas sobre o mau tempo chegaram tarde e a más horas, ainda que as justificações se baseiem no comportamento errático do Leslie. Também no Brasil, o famoso #EleNao despontou quando 45 milhões de votantes já tinham na cabeça #EleSim . E Jair Bolsonaro, qual Messias – que, de resto, é o seu nome do meio - , entrou pela democracia brasileira e provocou estragos ao vencer a primeira volta das presidenciais. Tenho um amigo que não acredita nisso das alterações climáticas. Segundo ele, é tudo (ironicamente) uma tempestade num copo de água. Ainda não falámos no pós-Leslie, mas de certeza que vai dizer-me que as telhas que voaram do seu prédio são uma coisa “p

Jorge Jesus e as saudades nossas

Jorge Jesus deu ontem  a melhor entrevista da sua carreira e uma das melhores que vi nos últimos tempos. Acompanhei a meio gás em direto na CMTV e no dia seguinte usei a maravilha da tecnologia para ver a sessão completa em casa. Tenho a ideia que toda a gente simpatiza com JJ . Os 63 anos ajudam muito neste aspeto, há uma certa figura paternal que emerge e que, não tenho dúvidas, é crucial na sua relação com os jogadores. É óbvio que, tal como acontece com os pais, nem sempre encaixa da melhor maneira na nossa paciência, mas a verdade é que pouco depois está tudo sanado. Jesus, que recentemente emigrou para a Arábia Saudita, falou durante horas. Não houve ali complexos , não falou apenas de futebol, não houve sinais dos milhões que foi ganhar para o Al Hilal. Ali esteve um treinador que ganhou lugar nos mais mediáticos de sempre em Portugal. Não foram raros os momentos em que o antigo técnico de Sporting e Benfica me pareceu estar a conter as lágrimas . Perceba-se, ent

Marcelo e o assalto à Casa Branca

Há um filme de 2013 chamado ‘Assalto à Casa Branca’ (ou ‘Olympus has Fallen’ na versão original) em que o lar do presidente dos Estados Unidos da América é invadido por malfeitores. Ora, na quinta-feira assistimos a uma versão real desta película, com a diferença de, em vez de malfeitores, a Casa Branca ser tomada de assalto por Marcelo Rebelo de Sousa . Tenho Donald Trump como um estratega que não é tão limitado em pensamento como aparenta. Evidentemente, tem ideias lunáticas e crê que o planeta é uma ‘sand box’ gigante, se me permitem uma expressão muito em voga no mundo dos videojogos. No entanto, Trump faz da atenção a todos os perigos apontados à América uma bandeira sua e as propostas vão desde um simples muro na fronteira à proibição de entrada de muçulmanos, passando por bombardear a Síria ou criar uma força espacial – esta, confesso, nem o mais criativo dos génios se lembrava. No entanto Trump e a sua – atenção: ler com sotaque rasca francês – entourage não esta

Largos dias têm 10 anos

Há 10 anos que escrevo um blogue. Há poucas coisas que faça há tanto tempo. Talvez respirar, duvidar da meteorologia para amanhã ou tentar adivinhar o preço da montra final. Já aqui falei de tudo e na verdade ainda não falei de nada. Porque, ao contrário do que recomendam os 750 manuais para ter sucesso “no seu blogue”, o Digo-te não tem um tema específico . É como aquele nosso amigo que não sabemos bem o que faz no emprego e que carinhosamente associamos à parte logística. Este blogue faz aquilo que os Gato Fedorento um dia apelidaram de faturação de faturas . Não sabe o que faz, embora já devesse saber, tal e qual um miúdo de 10 anos. Aprendeu a escrever e já pensa que é o maior. Só pensa em si mesmo e goza com os miúdos que se inscrevem nos escuteiros. O Digo-te não é, de todo, pontual. Ora aparece com conteúdos novos em dias seguidos, ora tira férias durante um mês inteirinho. É patrão de si mesmo , como o Peixoto era quando Carlos Cunha fugia com a garota no atrevido Ma

Uma no cravo e outra na ditadura

Ouço/leio com mais frequência do que gostaria que o país precisava é que Oliveira Salazar cá estivesse, que naquele tempo ninguém roubava e que a Justiça funcionava a todo o gás, entre outras pérolas dignas de um sketch de Gato Fedorento. Significa pois que mais de 80 anos não foram suficientes para confinar a terrível beleza da ditadura aos livros de história: 40 deles foram passados sob um regime opressor e os 44 seguintes sob a democracia que muitos não merecem . É óbvio que sou um nativo da liberdade. Nasci com ela e o único contacto que tenho com essa altura negra da história lusitana é com o que vou aprendendo. Não vivi aqueles dias, não conheci aqueles tempos. Mas confio cegamente nos relatos que vou absorvendo e discernindo de outros que ficaram parados no tempo . Teorias há muitas, ao jeito de cada um, e também eu tenho as minhas. Uma delas é que o único salazar que faz falta nos dias de hoje é o de cozinha , aquele engraçado utensílio usado para rapar a massa dos bol

Portugal não está preparado mas a culpa não é nossa

Portugal não está preparado para nada e nem poderia ser de outra forma. Que sentido faria estarmos a postos se há tanta coisa que pode acontecer neste mundo e que não depende das nossas pequenas barriguinhas? A coisa torna-se ainda mais visível nestes dias de mau tempo: não estamos preparados para tanto frio nem para tanta chuva em tão poucas horas. Manda-se encerrar as escolas e temos a única estância de esqui no planeta que fecha… quando neva . Da mesma forma, no verão não estávamos preparados para tanto calor. A seca apanhou-nos de surpresa, mesmo que se tenha consumado ao longo de meses. Não estávamos preparados para os incêndios pois não tínhamos as matas limpas, da mesma forma que agora não estamos preparados para limpá-las nos prazos estabelecidos. Mas não é só a nível da natureza que nos podemos queixar. Também não estávamos preparados para a crise que nos bateu à porta em 2008. Não estávamos preparados para a ruína do BES, para o desfalque do BPN ou para o escândal

Sérgio Conceição é a Marisa Liz do FC Porto

Sérgio Conceição é a Marisa Liz do FC Porto. Ou Marisa Liz o Sérgio Conceição dos Amor Electro. É à escolha. A comparação pode parece absurda – nada a que não estejam já habituados se são frequentadores deste blogue – mas eu cá acho-a praticamente perfeita e com todo o sentido do Mundo. Vejamos: sou admirador de Sérgio Conceição . Era-o quando jogava e sou-o agora que treina. Não apenas pelas suas qualidades como treinador, atenção. Acho que ainda tem de dar provas de que é talhado para os grandes clubes e na verdade até está a fazer por isso. Admiro-o sim pela forma como comunica. Seja com os jornalistas, seja com os seus jogadores, seja apenas pelo que transparece mesmo quando não está a falar com ninguém. Chamá-lo ‘Sério’ Conceição seria aceitável em tom de brincadeira mas um bocadinho injusto face ao sorriso fácil que tem e que ainda conserva dos tempos em que apontava golos no relvado. Sérgio rompe uma linha de nevoeiro que havia naquele cargo anteriormente. Um nevoei