Jorge Jesus deu ontem a melhor
entrevista da sua carreira e uma das melhores que vi nos últimos tempos.
Acompanhei a meio gás em direto na CMTV e no dia seguinte usei a maravilha da
tecnologia para ver a sessão completa em casa.
Tenho a ideia que toda a gente
simpatiza com JJ. Os 63 anos ajudam muito neste aspeto, há uma certa figura
paternal que emerge e que, não tenho dúvidas, é crucial na sua relação com os
jogadores. É óbvio que, tal como acontece com os pais, nem sempre encaixa da
melhor maneira na nossa paciência, mas a verdade é que pouco depois está tudo
sanado.
Jesus, que recentemente emigrou para a Arábia Saudita, falou durante horas. Não houve ali complexos, não falou apenas de futebol, não houve sinais dos milhões que foi ganhar para o Al Hilal. Ali esteve um treinador que ganhou lugar nos mais mediáticos de sempre em Portugal.
Não foram raros os momentos em
que o antigo técnico de Sporting e Benfica me pareceu estar a conter as
lágrimas. Perceba-se, então, de onde vem aquela tristeza. JJ tem neste momento
tudo o que precisa para trabalhar: um bom ordenado, gente que o serve de manhã
à noite e a total preocupação dos dirigentes do clube saudita. Referiu mesmo
que ninguém se senta à mesa sem que ele próprio se tenha sentado; ninguém entra
no autocarro da equipa sem que ele tenha entrado. “E não fui eu que pedi!”, deixou claro.
O que assombra então JJ? Não são
os fantasmas do que aconteceu em Alcochete – ele próprio afirmou que nunca
sentiu medo e por isso defendeu os jogadores desde o início. É sim uma das
maiores fraquezas do ser humano e que mesmo numa pessoa com o caráter de JJ se
faz sentir: as saudades.
São as saudades de casa, do
futebol português, do peixe grelhado e até dos jornalistas lusos que tramam
Jesus. Todas elas foram confessadas ou transpareceram na entrevista. Não é um
turbante que assusta JJ, nem um plantel que não fala inglês. É sim a falta
daqueles e daquilo que tinha como garantidos em Portugal. A família de Jesus é
mais do que apenas os familiares. É tudo o que conquistou no futebol português,
é o carinho patente na sociedade e que não mudou com a passagem do Benfica para
o Sporting.
Se Jesus pudesse, dava uma
entrevista destas todas as semanas. Porque nesse momento esteve novamente
rodeado de tudo o que gosta e que não tem na Arábia, seja o falar em português
ou a conversa animada com amigos – ainda que estes estivessem num estúdio a
milhares de quilómetros.
E foi essa a receita que fez
aparecer um Jesus aberto como há muito não se via. A entrevista não precisou de
amparos. Jesus caminhou suavemente através dela e abrilhantou-a com as suas
típicas e engraçadas expressões, deu-lhe cor com sentimentos verdadeiros e
recheou-a com um lado humano que fez com que o tempo passasse a voar.
E é isso que Jesus quer, que o
tempo passe a voar, porque ele precisa do futebol português. E o futebol
português, setor onde me incluo profissionalmente, está ansiosamente à espera
do seu regresso.
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