O furacão, tempestade, enfim, ventania da grossa passou por
cá e deixou uma parte do país de saias levantadas. E, como sempre acontece
quando uma cuequinha fica à mostra, há sempre quem deite o olho e aproveite
para troçar. O fenómeno chamou-se Leslie mas bem poderia chamar-se Bolsonaro,
porque são deveras semelhantes.
Os alertas sobre o mau tempo chegaram tarde e a más horas,
ainda que as justificações se baseiem no comportamento errático do Leslie.
Também no Brasil, o famoso #EleNao despontou quando 45 milhões de votantes já
tinham na cabeça #EleSim. E Jair Bolsonaro, qual Messias – que, de resto, é o
seu nome do meio - , entrou pela democracia brasileira e provocou estragos ao
vencer a primeira volta das presidenciais.
Tenho um amigo que não acredita nisso das alterações climáticas.
Segundo ele, é tudo (ironicamente) uma tempestade num copo de água. Ainda não falámos
no pós-Leslie, mas de certeza que vai dizer-me que as telhas que voaram do seu
prédio são uma coisa “perfeitamente natural e que acontece ciclicamente”. Pois
bem, regressando ao Brasil, ainda que apenas metaforicamente porque já não
tenho mais férias este ano, o fenómeno Bolsonaro é encarado como as alterações climáticas.
Está mais do que provado que está a acontecer, que houve e há culpa humana na
coisa, mas ainda há muito boa gente que, numa expressão canarinha, não está nem
aí. Tal como se deita tudo no contentor comum mesmo que esteja ao lado do
ecoponto, há quem entregue o seu voto ao lixo, ignorando o perigo ambiental-democrático
que está à espreita.
Por cá já nos livrámos do furacão. Assustou e deixou marcas,
mas perdeu força e seguiu para outras paragens. No Brasil, a tempestade fez uma
primeira aproximação e haverá segunda volta. Agora que estão mais do que
avisados, é torcer para que a ‘proteção civil’ do país irmão se una e cumpra
isso mesmo: proteja a já deficitária civilização de uma nação que poderia ser valente,
como diz o hino da que lhe deu a língua.
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