Portugal não está preparado para nada e nem poderia ser de
outra forma. Que sentido faria estarmos a postos se há tanta coisa que pode
acontecer neste mundo e que não depende das nossas pequenas barriguinhas?
A coisa torna-se ainda mais visível nestes dias de mau
tempo: não estamos preparados para tanto frio nem para tanta chuva em tão
poucas horas. Manda-se encerrar as escolas e temos a única estância de esqui no
planeta que fecha… quando neva.Da mesma forma, no verão não estávamos preparados para tanto calor. A seca apanhou-nos de surpresa, mesmo que se tenha consumado ao longo de meses. Não estávamos preparados para os incêndios pois não tínhamos as matas limpas, da mesma forma que agora não estamos preparados para limpá-las nos prazos estabelecidos.
Mas não é só a nível da natureza que nos podemos queixar.
Também não estávamos preparados para a crise que nos bateu à porta em 2008. Não
estávamos preparados para a ruína do BES, para o desfalque do BPN ou para o
escândalo das Raríssimas. Tão pouco estávamos prontos para a longa fuga de
Pedro Dias e Manuel Palito. Não estávamos preparados para a violência no Urban
ou para o assalto de Tancos.
Não estamos preparados para tantos turistas nem para tantos
aviões a querer pousar cá na terrinha. Não estamos mentalmente preparados para
passar horas no trânsito, nem as estradas estão preparadas para a intensidade
dele. Ouvimos que a Ponte 25 de Abril pode não estar preparada como devia, assim
como a bancada do Estoril podia não estar preparada para três mil adeptos do FC
Porto.
Não estamos preparados para o surto da gripe nem para as
filas nos hospitais. E por falar em filas, não estávamos preparados para a
correria aos bilhetes dos U2. O Passeio Marítimo de Algés não está preparado
para o Alive, o Piçarra não estava preparado para as acusações e o Rock in Rio
não está hoje preparado para… o rock.
Aparentemente não estamos preparados para programas como a
Supernanny nem para acabar com as transmissões de touradas. Não estávamos
preparados para a TDT, não estivemos para o 3D e não estamos agora para o 4K.
Não estamos preparados para validar as faturas a horas, não
estamos preparados para mais nenhuma subida de impostos e os trabalhadores da
Autoeuropa não estavam preparados para trabalhar aos sábados. Não estamos
preparados para cumprir horários nem para ter paciência quando o comboio se atrasa.
E, já agora, os comboios não estão preparados para a bitola europeia.
Não estávamos preparados para construir 10 estádios e nem
para fazer um aeroporto em Beja. Não estávamos prontos para a lábia de
Sócrates, a austeridade de Passos ou a geringonça de Costa. Ninguém pode estar
preparado para a genica de Marcelo!
Portugal não está preparado e a responsabilidade,
evidentemente, não é nossa. Até porque nem estamos preparados para assumi-la.
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