Sérgio Conceição é a Marisa Liz do FC Porto. Ou Marisa Liz o
Sérgio Conceição dos Amor Electro. É à escolha.
A comparação pode parece absurda – nada a que não estejam já
habituados se são frequentadores deste blogue – mas eu cá acho-a praticamente
perfeita e com todo o sentido do Mundo.
Vejamos: sou admirador de Sérgio Conceição. Era-o quando
jogava e sou-o agora que treina. Não apenas pelas suas qualidades como
treinador, atenção. Acho que ainda tem de dar provas de que é talhado para os
grandes clubes e na verdade até está a fazer por isso. Admiro-o sim pela forma
como comunica. Seja com os jornalistas, seja com os seus jogadores, seja apenas
pelo que transparece mesmo quando não está a falar com ninguém. Chamá-lo ‘Sério’
Conceição seria aceitável em tom de brincadeira mas um bocadinho injusto face
ao sorriso fácil que tem e que ainda conserva dos tempos em que apontava golos
no relvado.
Sérgio rompe uma linha de nevoeiro que havia naquele cargo
anteriormente. Um nevoeiro denso e de certa forma assustador com Lopetegui e
outro nevoeiro parado e monótono com Nuno Espírito Santo. O Sérgio Conceição de
hoje mantém as veias salientes de sempre, vive o futebol no estado puro e não é
um fato e uma gravata que o vão mudar nesse aspeto. Porém, está ao mesmo tempo
crescido, consegue conduzir agradáveis conferências de imprensa para quem gosta
de futebol, não se perdendo em chavões futebolísticos daqueles que os
jornalistas já vão escrevendo mesmo antes de ouvir o entrevistado.
E onde entra Marisa Liz nesta história? Pois bem: o papel
que representa na música portuguesa é parecido com o de Sérgio no campeonato
luso. Também ela integra uma área de muita resignação, comodidade e facilidade em
progredir nas zonas de conforto. No entanto, tal como o treinador do FC Porto,
Marisa prefere as zonas… de confronto. Com isto não digo que sejam ambos
irritantes, mas sim diferenciadores. Marisa Liz quebra protocolos associados às
estrelas da música, escolhe estilos bem longe dos padronizados e não tem medo
das reações que pode causar. Por seu lado, Sérgio Conceição não deixa que o
cargo que desempenha lhe tire a emoção que todos gostamos no futebol, deixa,
tal como Marisa, o politicamente correto de lado sem descurar a educação e
consegue dizer algo como “Levantar a cabeça? Temos é de baixá-la!” após um mau
resultado.
Não conheço pessoalmente nenhum dos dois, nem sei se se
conhecem entre si. Mas aceitaria almoçar com ambos e confirmar a minha tese de que
fazem bem às áreas onde trabalham. E é disso que precisamos.
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