Há um filme de 2013 chamado ‘Assalto à Casa Branca’ (ou
‘Olympus has Fallen’ na versão original) em que o lar do presidente dos Estados
Unidos da América é invadido por malfeitores. Ora, na quinta-feira assistimos a
uma versão real desta película, com a diferença de, em vez de malfeitores, a
Casa Branca ser tomada de assalto por Marcelo Rebelo de Sousa.
Tenho Donald Trump como um estratega que não é tão limitado
em pensamento como aparenta. Evidentemente, tem ideias lunáticas e crê que o
planeta é uma ‘sand box’ gigante, se me permitem uma expressão muito em voga no
mundo dos videojogos. No entanto, Trump faz da atenção a todos os perigos
apontados à América uma bandeira sua e as propostas vão desde um simples muro
na fronteira à proibição de entrada de muçulmanos, passando por bombardear a
Síria ou criar uma força espacial – esta, confesso, nem o mais criativo dos
génios se lembrava.
No entanto Trump e a sua – atenção: ler com sotaque rasca
francês – entourage não estavam preparados para acolher o furacão Marcelo, por
muitas tempestades que possam atingir a costa Leste dos EUA. Devia ter feito a
ponte com Luís Costa Ribas, podia ter questionado o amigo Putin sobre o que aí
vinha, ou simplesmente convidar Marcelo para vir numa altura mais quente e este
se apresentasse fraquinho como aconteceu à saída do Bom Jesus de Braga.
Mas não. Trump veio à porta de mão estendida e queria
dominar o encontro desde o primeiro momento, como de resto tentou com Kim umas
semanas antes. O que o presidente dos Estados Unidos não esperava era o aperto
de mão nuclear do homólogo português. Assim que vi o puxão a que Trump foi
sujeito, temi que os guarda-costas crivassem Rebelo de Sousa com dezenas de
tiros. Mas também eles devem ter ficado perplexos com tamanho ‘bacalhau’
oferecido à chegada pelo presidente luso.
Já lá dentro, Ronaldo tinha de vir à conversa. E se a
proposta de Trump sobre um CR7 candidato a Belém começou por despertar as
atenções, foi a resposta de Marcelo que arrasou a Sala Oval. Uma segunda bomba
atómica, a verdadeira Nagasaki depois da Hiroshima no aperto de mão.
Marcelo Rebelo de Sousa tirou a gravata a Trump e
colocou-lhe um nariz de palhaço. E a verdade é que o magnata norte-americano
fica bem nesse papel – acho-lhe piada, tem um cabelo a condizer e a cara mais
pintada do que o Batatinha. “Portugal não é os Estados Unidos”. Naquela frase
não estava nenhum insulto ao povo americano nem ao país em si, mas antes uma
referência à forma como Trump chegou ao poder.
A democracia, inquestionável na sua existência e supremacia
atual sobre todos os outros sistemas políticos, tem também uma parte de
palhaçada e Marcelo frisou-o durante a visita à Casa Branca. De resto, os
encontros entre presidentes nos quais são discutidos em 15 ou 20 minutos os grandes
temas mundiais são autênticas curtas-metragens de comédia. Desta vez, a
punchline final coube a Marcelo. Resta a Trump agendar viagem a Lisboa e
aprontar um guião à altura. Uma coisa é certa: de circo percebe ele.
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