Há três coisas que acredito piamente que nunca acabarão em
Portugal:
1 – o Benfica
2 – o Preço Certo
3 – os almoços de família
Deixando
o Benfica e o Preço Certo de lado, falemos pois do terceiro item, também ele um muito popular como o primeiro, e onde quem manda é o mais gordo, como o
segundo.
Eu
gosto dos almoços de família e acho que todos os portugueses também. E desde
logo porque ocorre no timing exato. Caso se tratasse de um pequeno-almoço,
jantar, ou mesmo uma bucha, um mata-bicho, um lanche, uma ceia, uma merenda ou
simplesmente uma “peça-de-fruta-a-meio-da-manhã-que-faz-muito-bem-àquele-colesterol-mau-que-ainda-na-semana-passada-estava-quase-a-300”
de família, não seria a mesma coisa.
Até
como desculpa serve para as mais variadas situações:
“Amooor, amanhã levas-me ao chinês?”
“Não posso, bebé, tenho almoço de família” – e a coisa passa
sem grande alarido. Mas caso tivéssemos dito “jantar de família”, seria
qualquer coisa do tipo:
“Estúpido, nunca tens tempo para mim, a Clara é que tem
sorte, o Pedro nunca lhe ia negar uma coisa destas, logo à noite esquece, podes
dormir na sala hoje, quero o divórcio, andei enrolada com o carteiro…”.
De facto, o almoço de família
marca até a hierarquia familiar. O homem da casa, facilmente identificado pelo
bebé que parece trazer no ventre há 12 anos, é o primeiro a sentar-se e o
último a sair. Gosta de ficar no topo da mesa, e tal como as claques que ficam
atrás da baliza, vai mandando bitaites quando não gosta do que vê. Os seres
humanos de tenra idade, vulgarmente designados por crianças, tendem a
escapar-se da mesa a meio da refeição, quando não estão devidamente
imobilizados. Recomenda-se, portanto, cuidado.
A senhora da casa, habitualmente conhecida por “patroa”,
raramente se senta, no vaivém desenfreado entre o fogão e a mesa. Cabe-lhe a
penosa missão de perguntar 600 vezes a cada pessoa se quer mais arroz que agora
é que ele está bom, de dizer para tirar mais carne que amanhã já ninguém a
come, ou de cortar mais uma fatia deste melão delicioso que afinal ainda está
verde e mais uma semana e estava no ponto.
Os avós, fruto da experiência, já são mais calmos. Mas uma
vez ou outra lá vão dizendo que o neto está magrito enquanto percorrem a
carteira à procura de uma nota de 20 para lhe dar.
No final, um bolo caseiro mal desenformado e um espumante do
Pingo Doce fazem as delícias de novos e velhos, numa alegria duradoura que
apenas sofre uma pausa, no momento em que o marido diz à esposa “levas tu o
carro”, e enche mais um flute, que ele é bom enquanto está fresco.
E pronto. Depois de umas três
horas a dizer que os políticos são todos iguais, isto está uma miséria, o
Benfica joga amanhã, liga ao primo Zé que faz anos hoje e quem é que comprou a
casa ao fundo da rua, lá se despedem todos, adeus e um queijo, até ao próximo
domingo se Deus quiser. Se calhar não que tenho que fazer, mas falamos durante
a semana.
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