Recapitulando. O ser esplêndido que vos fala tinha acabado
de dar um grande passo na sua vida. Estava finalmente no caminho que
considerava ser certo: jornalismo. E lá fui eu no primeiro dia, subindo a
avenida dos arcos, com a pasta debaixo do braço, sinal de que os tempos de
caloiro já eram apenas memórias. Vi pela primeira vez as faces que me iam acompanhar
nos três anos seguintes: “Olha-me aquela miúda ali, é um doce! Aquele gajo tem
mesmo cara de rufia!” E nesse dia viria a cometer um erro muito, muito grande –
ora toma Luís Simões que é para aprenderes – relativamente à praxe. Ora esta
reconhecida besta quadrada teve o seguinte momento de insanidade: “bom. Eu já
fui caloiro, já fui praxado, não preciso disto outra vez, vou passar esta fase
à frente, adeus e até mais logo, que vou antes jogar um PES para casa.”
Meninos e meninas que eventualmente me estejam a ler, em idade de entrar para a
universidade, NÃO FAÇAM ISTO! Ou terão 20 anos de azar em que todos os dias
acordarão com uma dúzia de sapos gordos e viscosos aos vossos pés!
Agora mais a sério, o facto de não querer repetir a praxe quando mudei de curso
não me fez bem nenhum. Pelo contrário, isso conseguiu isolar-me de pessoas que
eu ainda nem conhecia, nem quis conhecer no primeiro, segundo, terceiro dia… E
como diria o avô de um amigo meu, as que não se dão não se voltam a dar!
Resumindo e tirando a conotação sexual, aquela decisão influenciou para sempre
a minha relação com os meus companheiros. É verdade que nos primeiros tempos
notei – e desculpem caros colegas, mas vocês também já devem ter percebido – a diferença
entre alguém há um ano na faculdade e as pessoas acabadas de chegar do
secundário. E que diferença! Mas tanto me sentia isolado por ser mais “maduro”
como de repente tinha a necessidade e sentia o conforto de voltar àquela fase,
àquela mentalidade, àqueles tempos em que tudo era novo. Apesar de tudo, eu
estive sempre lá. Vocês colegas, podiam não notar, mas eu também me ria com as
vossas picardias. Também me revoltava pelas vossas causas, também vos notava a
crescer enquanto crescia. Embora estes momentos de sintonia estivessem
limitados das 9 às 17, ponto. Com muita pena minha.
Hoje a situação é diferente porque todos evoluímos e a interação surgiu
naturalmente. O tempo encarregou-se de corrigir este meu ato de jumento. Um pedido de desculpas ficava aqui bem, mas podemos resolver isto com uma boa noite de copos.
Os primeiros tempos de aulas iam passando, e sentia-me muito bem! Agora sim,
tinha a liberdade de escrever, debater, de falar do que queria e me
interessava: o mundo! Já não estava cingido aos números e símbolos que o
monitor mostrava. Que diferença abismal!
Entretanto mais amigos da terrinha tinham chegado a Coimbra. E 2008 tornava-se
assim um ano de loucuras, de limites ultrapassados, de coisas importantes que
podiam esperar, porque já tinha combinado um jantar para logo. Existissem
estudos que o provassem, e podia agora garantir que perdi uns bons anos de vida
nesses tempos. Mas valeu bem a pena, e as histórias que tenho – muitas delas
gravadas em fotos e vídeos – dizem-me que não podia ser de outra maneira.
2008 entrou assim definitivamente para o top3 de anos mais felizes da minha
vida, sendo que os outros lugares do pódio estão obviamente reservados para
dois acontecimentos que qualquer comum mortal deseja ardentemente presenciar: 1
- ganhar o euromilhões; e 2 - sair uma edição da Playboy portuguesa com uma mulher
nua na capa! Ai…
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