Multiplicamo-nos os sentidos, somos o dobro de tudo, duas
vezes mais que ontem e duas menos que amanhã. Sombra e sol que se fazem existir
mutuamente, que se contrariam e anulam, igualando todas as palavras deste
mundo.
Somos cores raras, brilhamos no mais negro dos escuros e,
ainda assim, iluminamos o caminho de quem acredita, de quem nos segue como
exemplo, como força. Força de resistência treinada para sobreviver a ventos
semeados e tempestades colhidas, ao estilo do provérbio. Somos a bonança que
vem depois e dá de novo lugar ao sol e à sombra, num dueto melódico, digno de
esgotar coliseus. Gostamos de gostar de nós e temos razões para isso. Temos duas
vezes mais razões que naquele dia.
Aprendemos que mais com mais da mais. Essa positividade que
nos atravessa tem altos e baixos, como a sombra e o sol. Mas, tal como eles,
volta a cada dia porque nada pode impedir a ordem natural das coisas. Esta chama
arde e vê-se, não é como aquela outra do poema. Não rimamos, não temos de
rimar. Somos versos imperfeitos, estúpidos e arrogantes. Até podemos merecemos
um par de estalos, mas assentam-nos melhor dois miminhos.
Dois, portanto. É disso que se trata. Hoje são dois, somos
dois. Faz e fazemos todo o sentido. Duplamente.
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