O que vos lembra a palavra paixoneta?
Bem, para começar, eu adoro o termo. Soa mesmo a
palavra típica da Língua Portuguesa. Não há cá flirts, crushes, talões ou
outras complicações. Paixoneta faz-me lembrar salmonete, o peixe que aspira a
salmão, tal como a paixoneta aspira a paixão, tal como o aspirador aspira o chão. Peço perdão pelo trocadilho. Amigos como antes?
As paixonetas têm muito que se lhes diga. Na verdade,
são como o metro: estão sempre a passar. Há noites em que também acabam à uma e
voltam às seis, numa ou noutra mensagem já com os copos. E além disso, há mesmo
dias em que fazem greve, enquanto do outro lado alguém mais desprevenido manda tudo para o
carvalho e pergunta “que culpa tenho eu?”.
De facto, as paixonetas, como os treinadores dizem das
estatísticas, valem o que valem. Uma paixoneta não permite amar, apenas deixa
gostar, não faz chorar mas põe-te a arfar. Rima digna de um manjerico dos
santos populares. Numa paixoneta não há traições porque ninguém está preso.
Não há cadeados nem fechaduras, e a única chave da relação é precisamente a
relação da chave: entra e sai, vai e vem, abre e fecha.
As paixonetas são como os iogurtes, têm um prazo de validade
que convém respeitar, e que acaba mais depressa do que pensamos. Quando damos
conta, pumba. O pensamento - “Será que ainda está bom? Deixa cá provar” – é absurdo.
“Ah e tal, eles põem uma margem de segurança no prazo”… Amigos: numa paixoneta
não existe segurança nem insegurança, porque nada está em perigo. As marcas que
ficam são como as nódoas de água.
Mas há mais. As paixonetas são verdadeiros casos Freeport. Não há acusações porque todos são inocentes e não é preciso licença para nada.
A verdade é que toda a gente já teve as suas. E por este
facto, choca-me ainda mais que a TVI não faça nenhuma novela à volta de uma
paixoneta! Se repararem, é sempre sobre uma grande paixão, um amor inexplicável
e profundo. Porque é que apenas se escrevem romances de paixão? Porque é
que os Heróis do Mar chamaram a música de Paixão? Porque é que há um árbitro
chamado Bruno Paixão?
Enfim… Marta Leite Castro é a única pessoa que me entende.
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