Não mintam mais: este mundo não é pequeno, nem nada que se
pareça. Este mundo é gigante, maior do que devia ser, tão vasto que é fácil
perdermos nele aquilo ou aqueles que queríamos ter sempre connosco.
Não há bússola que nos valha na imensidão deste planeta, não
há GPS que nos ajude a encurtar os quilómetros que nos apertam o coração.
Muitas vezes não podemos dar a mão direita sem largar da esquerda algo que
agarrávamos faz tempo. E isso traz-nos escolhas, escolhas difíceis de fazer que
nos fazem sentir perdidos no tal mundo que, juravam-nos a pés juntos, era
pequeno.
Sim, é inevitável perdermos objetos, pessoas e memórias
através dos caminhos da vida. Contem com isso, não pensem que podem guardar
tudo num bolso e depois recorrer a ele quando têm saudades, como quem puxa de
um pacote de bolachas quando a fome aperta no ventre.
Posto isto, e depois desta sombra toda, é altura de olharmos
para cima. Sim, para cima. É lá que está o elo, é lá que está o nosso telefone,
o nosso Skype, o nosso mapa. Falo da Lua, pois claro.
Única, inimitável, exclusiva. A Lua é a única coisa deste
mundo que é só nossa e de todos ao mesmo tempo. Não há que enganar: é só nossa
quando estamos sozinhos numa noite de verão, naquelas espreguiçadeiras da moda,
enquanto os amigos estão lá dentro a cantar Rui Veloso; a Lua volta a ser nossa
quando conduzimos com ela ao lado e parece acompanhar-nos para onde quer que
vamos; não é de mais ninguém quando nos levantamos a meio da noite para fechar
melhor a persiana e vemos se está a chover.
Mas, num mundo onde – já disse – é tão fácil perder algo, a
importância da Lua cresce nessa nobre missão de ligar. Ligar o que se desligou.
É que a nossa Lua é simultaneamente a Lua de mais alguém. E por muito longe que
estejamos, se olharmos para cima, olhamos para a mesma Lua. Ali, ao mesmo
tempo, ela estende os braços do luar e faz de intermediária entre as mãos que
um dia já estiveram juntas. Damos a mão à Lua e ela dá dela a quem queríamos
dar a nossa.
Assim, por muito que nos sintamos perdidos, longe,
solitários, basta pensar que olhamos a mesma Lua dos sítios onde queríamos
estar, das coisas que desejávamos ter, das pessoas que ansiamos abraçar.
Partilhamos, pois, a mesma Lua. E, descansem, não há outra.
Comentários