Se há um elogio que está na moda é chamar alguém de amor.
Ser um amor é fashion, aparece nas revistas cor de rosa e tem espaço de antena
no Fama Show. Habituámo-nos a ouvir “és um amor!” quando fazemos as vontadinhas
todas, oferecemos presentes ou simplesmente ouvimos um desabafo completo. Imagine-se
que até aos animais de estimação dizemos que são uns amores. Esta miúda nova da
novela é um amor, o senhor Jacinto do talho é outro amor e o bebé da vizinha é
mais um. Tudo uns amores, portanto.
Contudo, é sabido que eu sou uma pessoa esquisita nestas
coisas e vejo pontas soltas na mais lisa das sedas. Dizer a alguém que essa
pessoa é um amor pode ser giro e até ter o seu quê de carinhoso, mas a mim não
me convence. O facto de ser “um amor” leva-me imediatamente a formular algumas
questões: “um? Qual?” ou “porque não sou mais do que um?”.
Ser um amor é ser uma parte de algo, um bocadinho, uma peça.
E nada funciona em partes, aos bocadinhos ou às peças. Ser um amor é estar
partido – ou repartido – e não fazer sentido sozinho. O que pensar de alguém
que nos chama praticamente de “mais um”? Que nos trata de forma carinhosa sim,
mas que nos põe ao nível do senhor do talho ou do cão? E como resolver isto?
Simples: “és amor”. És tudo, és o início e o fim, és o meio
do meu coração. Nada mais tocante. Ser amor é assim, é estar no centro e em
cada um dos cantos, é não sobrar espaço para mais nada. É representar, para a
pessoa que nos trata assim, tudo o que ela quer, é preenchê-la de sol, um sol
de amor, amor que somos.
Ser amor é ser muito, bastante, imensamente mais do que um
amor. E quando alguém me diz “és amor”, reforço a convicção de que estou certo.
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