Passamos a vida a lamentar, a olhar para trás, a recuar
virtualmente no tempo e a desejar ter feito isto e aquilo. Estamos sempre a
chorar por não ter um comando como o da Zon para poder andar uns dias, semanas
ou anos para trás. E tudo isto vem servido com uma boa dose da frase típica,
qual lema da vida ingrata, slogan da amargura, espelho de todos os males:
Se eu soubesse o que sei hoje…
Raios e coriscos, quem nos acode que na altura éramos
burrinhos e andávamos de olhos tapados com palas que nos impediam de ver e
aprender o que sabemos hoje. Socorro, socorrinho, que não fomos capazes de olhar
para a frente, de antecipar e de – falando futebolês – jogar no erro do
adversário. E pronto, resta-nos fazer birra e olharmos para trás a desejar o
que não tivemos, agarrados ao que não temos, enquanto não somos os únicos a
olhar o céu.
Sorte maldita a nossa, portugueses, amaldiçoados pela
satânica saudade, que é viscosa e se cola às nossas mãos como a resina dos
pinheiros. Cola e não descola, já dizia aquela música popular. Não descolamos
por um segundo de arrependimentos, de coisas que não foram mas podiam ter sido,
de alguém que lá ficou mas devia ter vindo, do caminho que afinal era à direita
e não à esquerda, de Salazar que era um ditador mas fez uma ponte, dos
Descobrimentos que revelaram o mundo, mundo esse que agora nos quer comer em
juros, do Euro2004 que podíamos ter ganho, da Marilyn Monroe que podia ter
levantado mais a saia…
Afinal, nós nunca soubemos o que sabemos hoje. Paremos lá
com os lamentos e deixemos os lenços já impregnados de lágrimas salgadas, não
adianta. O que está feito, feito está. Se soubéssemos o que sabemos hoje era
sinal que não tínhamos evoluído. E se na altura queríamos saber mais, então que
olhássemos para a frente em vez de olhar para trás. Para o mesmo atrás onde
olhamos agora.
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