"Informática! Está decidido!"
Foi o que pensei antes de fazer a candidatura ao Ensino Superior. Se Coimbra era o destino há muito escolhido, com o curso as coisas não eram tão lineares. - Deixem-me só acabar esta barra de cereais antes de continuar, que este teclado já tem migalhas que chegue... Ora... - Engenharia Informática era bonito, soava bem e agradava aos papás. Tinha emprego garantido e eu até era capaz de me habituar a coisas do género: "Ó Sr. Engenheiro, precisamos da sua ajuda" ou então: "E agora convosco, o Engenheiro Luís Simões" ou melhor ainda, no bar à conversa com uma linda moça: "E o Sr. Engenheiro por acaso não quer ir a minha casa ver o meu laptop?"
Tinha tudo para resultar, não era? Pois... mas não resultou. Logo nas primeiras aulas percebi que alguma coisa não estava bem. Aquilo não era informática. Ou melhor, aquilo ERA informática, pura e dura. Não eram pesquisas na net, não eram fóruns de pirataria, não era CTRL+ALT+DEL. Era programação, era Python, era C++, eram portas lógicas, era código. Era tudo o que eu supostamente já devia ter tido no secundário, era tudo o que eu não queria, nada daquilo me motivava minimamente. E agora? Como vou dizer isso lá em casa? No final do 1º semestre, introduzi levemente o assunto. Obviamente foi-me dito para continuar, que isto depois melhorava, etc, etc... Fogo, são os meus pais! Sempre confiei neles, porque não o hei-de fazer agora?
O 2º semestre foi o período mais difícil da minha vida. Hoje não me custa dizê-lo aqui, pela primeira vez: eu chorei. Admito, não sabia o que fazer. E eu que defendo que há sempre uma saída, não encontrava agora nenhuma. Não descobria um caminho. Não sabia, eu não sabia! Estava preso numa situação agoniante! E no entanto, à minha volta, todos pareciam pensar que eu estava bem. Se calhar porque eu tentava dar essa imagem.
Chegou a época de exames de Junho. Tinha os níveis de motivação no mínimo, contrariamente à raiva interior que me inundava. Até ao dia em que saio de um exame de física. Lembro-me perfeitamente de chegar cá fora e pensar: CHEGA! Foi como um grito mudo. Disse aos meus pais e amigos que tinha tomado uma decisão. Levei com os mesmos argumentos do 1º semestre. Foram poucos ou nenhuns os incentivos para mudar. Mas eu aguentei-me. E era um EU demasiado grande, forte e decidido. Agora sabia! Eu já sabia! Fiz a candidatura e entrei em Jornalismo. Foi uma sensação fantástica. Uma vitória pessoal extremamente importante.
Fui eu, ganhei. E ainda hoje tenho esse sorriso.
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