Os bilhetes normais estão em extinção. É uma realidade que
não mais pode ser escondida. As pessoas habituaram-se a ter descontos por tudo
e mais alguma coisa e poucos são os que não apresentam um cartão, uma
justificação ou uma criança pela mão que os leve a ter um bilhete especial.
Pode até nem ser mais barato, não pode é ser normal! O
estimado leitor pode fiar-se no que estou a dizer, garanto-lhe. O problema não
está no preço, está no facto de não sermos diferentes se não tivermos o nome na
guest e não houver passadeira vermelha.
Ter um bilhete especial é não ser ninguém a abrir-nos a
porta, mas sim termos a chave. É sermos do clube Bertrand quando os outros são
do Benfica ou ter um cartão da Sacoor quando os outros têm sacos de cartão.
Há de reparar, caro internauta, que na próxima fila onde
estiver para pagar algo as pessoas percorrem
a carteira, ávidas de cédulas,
identificações, cartões da empresa. E vão ao cinema ver o último Star Wars com
dois bilhetes NOS e um estudante. E vão de autocarro com o puto que só paga
metade porque ainda tem seis anos. Vão à bola com o cartão de sócio do primo ou
marcam lugares de visibilidade reduzida no Teatro São Carlos.
A febre espalhou-se, qual peste bubónica, e não há nada a
fazer. Prevejo que, dentro de poucos anos, as pessoas visitem museus para verem
bilhetes da Rede Expressos sem a marca CARTÃO JOVEM. E paguem o bilhete desses
mesmos museus com desconto do cartão FNAC, Clube Lacoste ou Hamburgueria do
Bairro’s Family.
E que chegue lá eu: “Era um bilhete normal, se faz favor” –
“Desculpe, só temos de estudante, pensionista, criança, criança de colo,
criança amamentada, militar, sócios ACP, membro da Ordem do Infante D.
Henrique, colaborador do Jornal do Fundão, TAP Silver e Louis Vuitton Exclusive
Special Guest Card – Golden Edition. Normais só ao terceiro domingo de cada
mês”.
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