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Luís Simões – um homem de L a S, mas que por vezes veste XL (parte II)


Boa noite. Eis-me aqui de novo, a expor-me publicamente neste cantinho de que disponho na internet, desta vez para falar da querida infância. Sendo esta a parte II, vou começar por descrever a minha vida até aos dois anos de idade, através da seguinte frase: baba, ranho e algo mais nas fraldas. Foi aqui que tudo começou, qual Génesis do livro sagrado! Era eu um alegre petiz, inseparável do seu melhor amigo, um pedaço de cobertor azul, que carinhosamente chamava de pelinho. Das poucas recordações que tenho dos momentos que passámos juntos, lembro-me claramente de quando estava prestes a ir para a sala de operações (ouvidos ou nariz, não sei!), o Sr. Doutor levou-nos aos dois ao colo para o bloco. Porque os amigos, mesmo imaginários, são para as ocasiões!
Prosseguindo, fui entregue aos cuidados de uma creche de freiras. Por isso, terá sido por muito pouco que passei ao lado de uma carreira no sacerdócio, e vocês terem de me tratar por Sr. Abade. A título de curiosidade, as freiras eram brasileiras, portanto reparem que comecei muito cedo o convívio com moças do país irmão, o que muitos homens só fazem depois dos 18 anos, em estabelecimentos de carácter duvidoso. Também espalhei magia infantil na cidade em que (orgulhosamente) nasci, Viseu. O infantário ficava por trás da famosa casa amarela, no Largo de Santa Cristina. Ali fui muito feliz e fiz muitas amizades. Fazia construções com pequenos tijolos metálicos, talvez sonhando com um futuro trabalho nas obras da Expo98, que naquele tempo ainda não se pensava em TGVs ou aeroportos! Foi também nesses anos que me apercebi dos problemas de alimentação dos quais padeço. De facto, cheguei a ingerir quantidades incríveis de plasticina de todas as cores, como quem experimenta bombons de sabores sortidos. Viseu marcou-me. É, sem dúvida, a cidade que mais me atrai.
Lá fui crescendo saudavelmente, sem esses vícios dos putos de hoje, como os computadores, consolas, morangos ou telemóveis. As únicas redes (sociais, pois eram atacadas pela sociedade em peso quando chegavam!) eram as que via na praia de Mira, com os pobres peixinhos a falecerem todos com falta de oxigénio, e eu a tentar devolvê-los ao mar, sem me aperceber que já estavam mais mortos que uma cerveja deixada aberta na noite de ontem. A tecnologia mais avançada que tinha era uma guitarra branca, com botões coloridos. Mais uma vez se nota que já na altura, o ser humano que vos escreve era um visionário, na medida em que, mesmo antes de existir tal jogo, fazia de conta que jogava Guitar Hero.
Atenção, atenção, que o menino vai para a primária! Ao contrário de muita gente que conheço, não tenho uma única recordação do primeiro dia de escola! Mas tenho muitas outras, nomeadamente das primeiras paixonetas, de jogarmos futebol divididos em SLB – SCP, de brincar às personagens do Dragon Ball e da régua de madeira que a minha professora, já falecida, manejava com tanta perícia!
Aprendi a ler, escrever, contar e ninguém me tira da cabeça que foi aqui que lancei a primeira piada, ou pelo menos tropecei e caí, com toda a gente a rir à minha volta. Mas o princípio é o mesmo! (E atenção agora para o momento poético da noite!). Aprendi onde nascem e para onde correm os rios. Hoje sei que não correm, apenas tentam caminhar lentamente tal como nós devemos aproveitar a vida ao máximo antes de desaguarmos.
Enquanto vão limpando as lágrimas de emoção que já vos cairam no teclado ou no iPad (isto se quiserem dar um... toque especial à coisa), vou confessar-vos uma coisa: Por entre tantos amigos que tive na escola primária, a maior parte (senão todos) não passam hoje de conhecidos, por quem passo à noite e aceno se não tiver um copo em cada mão. Tenho pena disso, mas a vida quis que nos separássemos. O Nelson, o Paulo, a Cátia, a Sofia, a Elizabete, a Marta, a Anabela, o Márcio, o Fábio e tantos outros, num lindo grupo que tenho preservado numa foto guardada algures neste quarto por entre dezenas ou centenas de livros de banda desenhada. Afinal, hoje tudo isto não passa de uma história em quadrinhos, divertida, com personagens inesquecíveis. Uma espécie de turma da Mónica, só que neste caso, a Mónica sou eu. Na altura, até com aqueles dentinhos de coelho à frente e tudo.

Não percam os próximos capítulos.

Comentários

caveira disse…
Este Simões nunca desilude!
Liadan disse…
Muito bom o texto!
Obrigada pelo coment =)

Beijinho*

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