Avançar para o conteúdo principal

Luís Simões – um homem de L a S, mas que por vezes veste XL (parte III)


O terceiro capítulo desta obra é um pouco diferente dos anteriores. Nele vou falar de quatro eventos festivos que acontecem na minha vida tão bonita e singela, como dizia o famoso Zé Cabra. E faltando hoje precisamente quatro meses e dois dias para o Natal, é justo que comece por aqui. Pessoalmente, sempre gostei da época natalícia. Quando era miúdo, pelos presentes. Quando andava no liceu, pelas duas semanas de férias. Quando me casei, pelos after-shave's que a minha mulher me oferece. Esperem lá! Eu ainda não sou casado! Então mas se já não ando no secundário e ainda não pus a sagrada corda do matrimónio ao pescoço, por que motivo gosto eu do Natal neste momento? A razão é simples: no Natal, todas as pessoas me parecem... embriagadas! Reparem bem: toda a gente anda nas ruas a rir-se e a querer pagar coisas aos outros. Há pessoas que vêem velhotes de barbas brancas a descer pela chaminé e até há mais acidentes nas estradas! Depois, na manhã do dia 25, acordam todos calminhos, como se estivessem ressacados. Ninguém vai trabalhar – e não me digam que é por ser feriado! – e ficam em casa a ver aqueles filmes lamechas que só dão nesta quadra.

Poucos dias depois vem a passagem de ano. E é curioso que as pessoas voltam a parecer-me embriagadas, não sei porquê. Entre passas e champanhe, comemora-se o fim do ano. Lembro-me de alguns episódios caricatos das minhas passagens de ano. Na famosa mudança do milénio, já eu me preparava para o fim do mundo e, querendo abandonar esta vida com estilo, envergava os meus óculos fluorescentes com o formato do número 2000. Uns anos depois comecei a perceber o sentido de festejar o fim do ano, e também eu me comecei a sentir uma pessoa embriagada, tal como os outros todos! E nestes dois últimos anos, na Figueira e Nazaré, pude comprovar a minha teoria, observando milhares de pessoas com uma taxa de álcool no sangue de fazer corar Manuel Vilarinho.

Parabéns a você, nesta data querida! E essa data é o dia 11 de Abril, que se repete há já 21 anos. Os aniversários são sempre motivo de festa rija. Sinceramente não consigo perceber aquelas pessoas que não gostam de festejar os anos! Estamos mais velhos, é certo. Mas passou mais um ano, e ainda cá estamos! Admito que quando era mais pequeno, não gostava muito da ideia de levar o bolo para a primária e o intervalo da manhã não ser apenas dedicado ao leite com chocolate. Mas actualmente a festa de Luís Simões em Abril é obrigatória! Aliás, ultimamente, para que todos os meus amigos possam estar presentes (e juro que é só por isso!), decidi alargar o período dos festejos de um dia para... uma semana! Por isso, ficam desde já convidados para um jantarzinho, onde me podem oferecer um presente caro, o qual eu honestamente vou dizer que recuso, ao mesmo tempo que o agarro com as duas mãos e nunca mais o largo. Faz parte dos aniversários!

O outro momento sempre marcante é a Páscoa. Confesso que não ligo lá muito à religião, embora Jesus (o Jorge!) me faça sorrir com as suas expressões muito particulares. Mas voltando ao assunto, não me imagino a viver a Páscoa numa cidade! Aqui na terrinha, é uma altura de festa muito particular. As pessoas andam de casa em casa, comem e bebem, cantam e algumas até dançam. A Páscoa é assim, todos vestem a blusa mais chique ou o pólo mais elegante, que no fim do dia é às bolinhas, por causa das nódoas do leitão da Ti Floripes, do vinho do Portugal, ou das chamuças da Maria do Ramiro. A verdade é que a Páscoa traz muita gente às ruas da aldeia, gente bonita e alegre, curiosa e que parece passar fome durante o resto do ano. Por um fim de semana, a crise passa ao lado, e apesar de algumas portas fechadas, as que estão abertas compensam bem pela hospitalidade. Aaah, adoro a Páscoa.


Nos próximos capítulo de Luís Simões – um homem de L a S, mas que por vezes veste XL, não percam as loucuras do secundário, das brincadeiras com moscas à viagem de finalistas.

Comentários

Os mais vistos do momento

Os malucos do riso

Porque somos tolinhos se rimos sozinhos? A questão rima mas impõe-se nos dia de hoje. Quem mostra os dentinhos ao mundo sem que expresse visivelmente o motivo é porque tem um parafuso a menos, bebeu uma garrafa de moscatel ou experimentou o louro tostado que oferecem no Rossio. Será? Pois bem, eu chamo tolinhos aos que censuram estes risos ou sorrisos. Entendam de uma vez por todas que quem ri sozinho é porque, na verdade, não o está. E não, não está com uma piela. Ouviu uma música na rua que fez lembrar-lhe um rosto, viu um carro que o transportou para uma viagem, sentiu um aroma que lhe reavivou um beijo. Mas não, ficam todos a olhar para o maluquinho. Se estivesse a chorar, iam ter com ele para perguntar o que se passa. Mas como ri, ninguém quer realmente saber e preferem fazer troça da situação. Quem sorri na rua sabe porque o faz. Leva à sua volta uma aura de otimisto, de energia positiva que os outros deviam reconhecer, apesar de não saberem a origem. É verdade que ...

Chegou!

Todos esperam um ano por ele. O Verão sabe como nos conquistar. Faz uso das suas características para que estejamos ansiosos pela sua chegada. Para qualquer estudante, Verão rima com férias, e logo as “férias grandes”, que, mesmo tendo esse nome, esgotam-se num instante. Chega então de aulas, de livros, de professores e de ter de acordar cedo. Um dia de férias digno desse nome, começa ao meio dia e acaba às 6 da manhã, numa qualquer discoteca, com boa música, boa gente e, claro, gente boa também, para animar! Mas o Verão significa muito mais do que isso. Praia, por exemplo. Há mar e mar, há ir e… não voltar! Era o que apetecia muitas vezes, ficar ali o resto da vida, a absorver os raios solares e a brisa marítima. A jogar futebol, voleibol, ou às cartas, a ler um livro, a ouvir música, a mexer na areia ou na água, a mergulhar, a surfar, a boiar, a conversar, a brincar, a caminhar ou a correr. Tantas coisas que podemos fazer na praia, que davam uma linda vida. Mas o Verão tem mais! Enq...

Ela é 96

Escrevi aqui, há quase dois anos, um texto sobre aquelas coisas minúsculas que nos impedem de seguir em frente. “ Há sempre algo ” que não controlamos e que aumenta o atrito na estrada para a meta. Hoje trago um problema ainda maior: quando os entraves que surgem à nossa frente foram lá colocados… por nós próprios. Estou a falar daquelas desculpas bem criativas, daquela preguiça que ataca no momento mais inoportuno, daquela Dona Inércia que dava a cara num anúncio ao falecido BES. E é precisamente num banco que nos sentamos enquanto pensamos o quão fantástico era estar de pé. Faz pouco ou nenhum sentido, mas é assim. Conseguimos encontrar no mais pequeno pormenor uma razão do tamanho do mundo para não avançarmos. Vemos em qualquer cisco uma duna imensa de areias movediças. Pedimos uma semana para decidir algo que nos tomaria 10 segundos a refletir. E acabamos por não lhe ligar porque ela é 96.