Avançar para o conteúdo principal

Dia 1

16:00
Sou pontual, cheguei ainda a tempo de ver a mudança de turno. Entro na base da VMER e apresento-me. Sento-me à espera que a mudança de turno esteja concluída. A base tem uma sala principal, uma sala de estar, um quarto e alguns anexos.

16:25
O ambiente familiar e a fantástica recepção permite que nos tratemos todos por tu. A Dra. Ana deu-me as primeiras noções do funcionamento da base da VMER. Reparo que traz sempre o telemóvel com ela, é através dele que pode chegar a qualquer momento uma chamada de emergência.
- Entretanto toca um telefone! Fiquei apreensivo, mas depois percebi que não era aquele… Volta a normalidade.
Vamos ao carro, que está lá fora pronto para sair, buscar um colete verde fluorescente, com a marca INEM nas costas, que vou usar nas saídas. Pude ver o material que ocupa a mala e quase todo o banco traseiro da VMER. Sobra apenas um pequeno espaço, é ali que me vou sentar a qualquer momento. Voltamos à base e perguntam-me se enjoo. O comprimido que tomei antes de vir diz que não.
- Fica à vontade, usa a net se quiseres.

17:30
Vamos lanchar num café perto do hospital, e reparo que a Dra. Ana está constantemente a verificar se o telemóvel está ligado e em perfeitas condições. Estar desligado nesta altura poderia significar a perda de uma vida. Regressamos à base, enquanto a Enf. Celínia vai explicando que muitas vezes as pessoas não vêem com bons olhos estas saídas para comer. Mas a verdade é que estes profissionais são pessoas como as outras.

19:30
O jantar arrefece aqui ao lado, a fome ainda não é suficiente. Continua tudo calmo na base.
“Devíamos ter cá estagiários todos os dias!”, ironiza a Enf. Celínia. Passaram 3 horas e meia desde que cheguei e só saímos para lanchar. Não sei se considere isto bom ou mau. A enfermeira diz ter pena que não estejamos a ter um “bom” turno. A rotina diz-lhe que acontece sempre isto quando não estão sozinhas. Continua a trabalhar sossegadamente no portátil, enquanto a Dra. Ana aproveita para ver televisão.
Entretanto jantámos.

22:32
Toca o telemóvel!
“Aí tens a tua primeira saída!”
Saímos rapidamente para o carro, enquanto recebo algumas instruções básicas de segurança. Temos um atropelamento numa via rápida, na zona de Taveiro. A condução tem de ser obrigatoriamente agressiva, todos os minutos contam! Durante a viagem, a médica vai em contacto permanente com o CODU, tentando saber sempre o máximo de informação.

22:40
A pessoa está já a ser assistida. Há uma ambulância do INEM no local, bem como muitos polícias. A vítima é estabilizada e transportada para dentro da ambulância. Está estável e consciente. A Dra. Ana acompanha o doente até ao Hospital dos Covões, enquanto eu sigo atrás na VMER com a Enf. Celínia.
Depois de entregue à equipa da urgência do hospital, a equipa da VMER regressa à base, num ambiente descontraído e de boa disposição, talvez pela rotina, ou pelo facto de não ter sido um caso grave.

23:30
Na base repõe-se o material gasto durante a saída, e preenchem-se as fichas relativas ao acidente.
Está tudo pronto para sair novamente. Pela minha parte, por hoje é tudo. Obrigado à equipa, foram fantásticas.
Amanhã às 16h há mais.

Comentários

Anónimo disse…
Já és 'quase' um verdadeiro jornalista... E hoje vais estar no trabalhinho e eu a curtir na Praça... Vai lá ter no fim... lol

Os mais vistos do momento

Os malucos do riso

Porque somos tolinhos se rimos sozinhos? A questão rima mas impõe-se nos dia de hoje. Quem mostra os dentinhos ao mundo sem que expresse visivelmente o motivo é porque tem um parafuso a menos, bebeu uma garrafa de moscatel ou experimentou o louro tostado que oferecem no Rossio. Será? Pois bem, eu chamo tolinhos aos que censuram estes risos ou sorrisos. Entendam de uma vez por todas que quem ri sozinho é porque, na verdade, não o está. E não, não está com uma piela. Ouviu uma música na rua que fez lembrar-lhe um rosto, viu um carro que o transportou para uma viagem, sentiu um aroma que lhe reavivou um beijo. Mas não, ficam todos a olhar para o maluquinho. Se estivesse a chorar, iam ter com ele para perguntar o que se passa. Mas como ri, ninguém quer realmente saber e preferem fazer troça da situação. Quem sorri na rua sabe porque o faz. Leva à sua volta uma aura de otimisto, de energia positiva que os outros deviam reconhecer, apesar de não saberem a origem. É verdade que ...

Chegou!

Todos esperam um ano por ele. O Verão sabe como nos conquistar. Faz uso das suas características para que estejamos ansiosos pela sua chegada. Para qualquer estudante, Verão rima com férias, e logo as “férias grandes”, que, mesmo tendo esse nome, esgotam-se num instante. Chega então de aulas, de livros, de professores e de ter de acordar cedo. Um dia de férias digno desse nome, começa ao meio dia e acaba às 6 da manhã, numa qualquer discoteca, com boa música, boa gente e, claro, gente boa também, para animar! Mas o Verão significa muito mais do que isso. Praia, por exemplo. Há mar e mar, há ir e… não voltar! Era o que apetecia muitas vezes, ficar ali o resto da vida, a absorver os raios solares e a brisa marítima. A jogar futebol, voleibol, ou às cartas, a ler um livro, a ouvir música, a mexer na areia ou na água, a mergulhar, a surfar, a boiar, a conversar, a brincar, a caminhar ou a correr. Tantas coisas que podemos fazer na praia, que davam uma linda vida. Mas o Verão tem mais! Enq...

Ela é 96

Escrevi aqui, há quase dois anos, um texto sobre aquelas coisas minúsculas que nos impedem de seguir em frente. “ Há sempre algo ” que não controlamos e que aumenta o atrito na estrada para a meta. Hoje trago um problema ainda maior: quando os entraves que surgem à nossa frente foram lá colocados… por nós próprios. Estou a falar daquelas desculpas bem criativas, daquela preguiça que ataca no momento mais inoportuno, daquela Dona Inércia que dava a cara num anúncio ao falecido BES. E é precisamente num banco que nos sentamos enquanto pensamos o quão fantástico era estar de pé. Faz pouco ou nenhum sentido, mas é assim. Conseguimos encontrar no mais pequeno pormenor uma razão do tamanho do mundo para não avançarmos. Vemos em qualquer cisco uma duna imensa de areias movediças. Pedimos uma semana para decidir algo que nos tomaria 10 segundos a refletir. E acabamos por não lhe ligar porque ela é 96.