Durante muitos anos, quando ainda era um potro, não percebi
como raio os músicos do Titanic continuaram a tocar até aos últimos minutos de
vida do famoso barco. Lembram-se certamente: o luxuoso navio tinha uma
orquestra que tentava animar os passageiros ao ar livre, enquanto estes
lutavam
por um lugar num bote salva-vidas à medida que a embarcação se afundava nas
águas gélidas do oceano Atlântico.
Ora, aqui o escriba tinha muita dificuldade em entender a
razão que levava aqueles desgraçados a continuar violino na mão, em vez de
salvarem a própria pele ou, pelo menos, esboçarem uma reação de pânico absoluto
perante a tragédia que se estava a desenhar à sua frente.
Hoje sei por que o fizeram. Infelizmente, o que a orquestra
do Titanic fez naquela fatídica noite é atualmente replicado um pouco por todo
o lado. Por vezes, não nos resta alternativa que não seja continuar o que
estamos a fazer, ainda que ao nosso lado tudo e todos se vão desmoronando. Não
é fácil, garanto-vos. Até porque a água há de chegar até nós. É evidente que
nem sempre isso acontece antes de saltarmos para ela, porque ninguém é de
ferro. E mesmo quem é ferro pode afundar, tal como o Titanic.
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