Vem nos livros que temos de ser alegres, que a tristeza é
uma coisa má, dos infernos, que devemos fugir dela como quem corre para um
abrigo em dia de tempestade. Pois bem, a sugestão do dia: também faz bem
apanhar chuva de vez em quando.
É isso mesmo. Contrariem tudo o que vos foi dito. Quem teima
em não sentir – ou em acreditar que não sente – a tristeza, vive num mundo de
ilusão, o que acaba, em si mesmo, por ser bem mais triste. Como seres
racionais, temos o direito e, por que não, o dever de experimentar boas e más
sensações.
Se querem fugir, fujam antes daqueles que nos dizem que vai
ficar tudo bem. Mentem-nos, como as enfermeiras mentem aos miúdos ao dizer que
a vacina não dói. A tristeza, como as vacinas, dói, é um facto. Mas se não nos
deixarmos picar, como saberemos do que nos estamos a curar quando procuramos
sorrisos, afetos e laços?
A verdade é esta: por vezes é preciso estar triste. Não falo
de andar por aí a cair aos bocados, lavado em lágrimas e envolto em gritos de
desespero. Falo de dias cinzentos, que de certa forma nos limpam a alma. Porque
– e isso já nos dizem de forma certeira – a vida não pode ser só festa.
A tristeza faz parte de nós e há que saber tirar partido
disso. Há que entendê-la, aceitá-la e até estender-lhe a mão. Nunca se sentiram
bem depois de chorar? Já ficaram ou não bem mais leves após desabafarem com
alguém?
Quem tem medo de estar triste não sabe a tristeza em que
vive. E quem não tem está mais perto de ser feliz. Simples.
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