Desde miúdos que desejamos algo. Aqueles Legos, aquela Barbie,
aquele jogo. Passamos a vida a atormentar quem tem o poder de decidir para que
nos satisfaça esse pequeno grande desejo. No entanto, quando alcançamos, por
fim, aquilo que tanto queríamos, muitas vezes o entusiasmo dura um par de dias
antes de virarmos atenções para o próximo objetivo.
Esta característica cresce connosco e não muda muito. O
fruto proibido é sempre o mais apetecido e, quando o temos finalmente à nossa
frente, fresco e com bom aspeto, a paixão que tínhamos por ele decide
pregar-nos uma partida e esconder-se definitivamente. Como se ficássemos
satisfeitos apenas pelo desejo de conquista e nada mais. É nosso, passemos ao
próximo.
Há, ainda assim, e como em tudo, exceções à regra. E que fique
bem claro: se essas exceções conseguem fugir a uma condição tão
pré-estabelecida é porque devem ser importantes, marcantes e únicas. Não são
muitas, mas existem e fazem-se notar. Se pararmos para pensar mais a sério,
conseguimos definir perfeitamente o que faríamos caso conseguíssemos ter isto
ou aquilo:
Que era mesmo o que eu queria. Que encaixava tão
perfeitamente. Que nunca mais o ia largar. Que completava todo o um desejo de
felicidade. E, de repente, damos por nós a fazer promessas, juramentos, amores
eternos que garantimos até ao fim. Imaginamos cenários belos, em que tudo corre
como durante tanto tempo ambicionámos, projetámos, arquitetámos.
Conseguimos ver, ouvir e quase sentir o que ia mudar no
nosso dia-a-dia e comparamos a nossa vida atual com aquela. Tudo o que nos ia
acrescentar ao dia, desde o nascer ao pôr-do-sol. Tudo o que nos ia iluminar à
noite, desde o jantar ao pequeno-almoço antes de ir dormir. A maneira como se
ia moldar às nossas mãos, aos nossos braços. As marcas que nos ia deixar na pele.
Por breves instantes, esquecemo-nos de que estamos a divagar
num mundo irreal, que ainda não aconteceu, e sobre o qual não temos qualquer
garantia que aconteça. Nem nos lembramos que aquilo que queremos
desesperadamente já existe mas está nas mãos de outros, noutras realidades,
onde não somos nada, ou pelo menos nada daquilo que pretendíamos ser. Não
fazemos caso ao facto de estarmos tão dependentes de algo que, afinal, não é
nem nunca foi nosso. E enterramo-nos cada vez mais nessas areias movediças que
nos puxam para baixo enquanto nos fazem sentir nas nuvens.
É este o único “senão” das tais exceções. São tão fortes,
tão atraentes, que nos dão a volta e nos paralisam de lutar por elas. E no fim,
resta um sorriso falso que nem razões tem para ser mais do que isso.
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