Entrámos no outono, a melhor estação do ano. Eu sei que é
estranho, toda a gente prefere o verão, o calor, a praia, as roupas curtas. No
máximo, a seguir ao verão virá a primavera, com o regresso do sol e das
esplanadas. Logo depois o inverno, a neve, a lareira, o natal e a passagem de
ano. E por último, o renegado outono. Frio, cinzento, amorfo, desconfortável. É
o que muitos pensam. Mas eu não.
O outono traz muito mais do que nos tira, e não estou a
falar de casacos. Traz, por exemplo, o descanso de um verão animado, o parar da
confusão, a calma que nos aconchega e nos faz pensar. Sobretudo isso, pensar. O
outono faz-nos refletir sobre o que se passou e antever o que aí vem. Separa o
trigo do joio quando prende alguns aos programas televisivos da moda que
estreiam sempre na rentrée.
Dá-nos outra sensação de chegar a casa e sentirmo-nos bem,
sem ser preciso ir abrir as janelas para arejar. Diverte-nos quando vamos na
rua a pisar as folhas secas no chão, fazendo barulhos entretidos. Prestamos
mais atenção a tudo: à rádio, aos jornais, ao céu, à terra, aos outros e a nós.
O outono sabe fazer isso como mais nenhuma estação do ano: fazer com que nós
sejamos o centro das nossas próprias atenções.
Não há estação do ano mais verdadeira do que o outono. Sem
filtros, sem máscaras, sem óculos de sol a tapar-nos a alma. Nada é artificial
na cor das árvores, nada é condicionado no ar do vento.
O outono marca o regresso ao trabalho ou às aulas, ao nosso
quotidiano do qual nos queixamos tantas vezes mas o mesmo sem o qual não
sabemos viver. Volta o ar fresco, renovado, natural. Voltam as comidas mais
elaboradas, mais quentes, mais repletas. Volta o apetite. O outono também é
isso, baseado no regresso de coisas que nos fazem e sabem tão bem, e das quais
fizemos uma longa pausa para voltarmos a senti-las como se fosse a primeira
vez.
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