Um dos assuntos que esteve em voga por estes dias foi a
inclusão da Guiné Equatorial como membro da CPLP. Juro que quando ouvi isto
pela primeira vez pensei que o locutor das notícias ficasse pelo “CP” e
imaginei-me logo a apanhar um urbano na estação de Roma-Areeiro para Malabo, com
paragem em Alfarelos para abastecer. Mas depois lá veio o LP, e que bela música
deram a Cavaco e Passos no tal encontro.
Tenho de admitir que foi um grande momento assistir às caras
de ambos quando esperavam começar por uma valsa e de repente soou a mais
estridente das guitarras de metal. Acho mesmo que o presidente da República
tinha treinado uns passinhos de dança suaves com a Maria, para que quando
começassem as negociações sobre a aceitação da Guiné Equatorial pudesse fazer
um brilharete a meio das conversas. Mas não, Cavaco viu-se imediatamente
rodeado de pessoas de cabelo comprido a abanarem violentamente a cabeça
enquanto faziam um M com as mãos. E, pior do que tudo, não percebeu um chavo da
letra da música. Não é que o presidente não seja fluente em línguas. Fluente
até pode ser, agora influente não é. Tanto que não conseguiu ensinar mais do
que um “sim sim” a Teodoro Obiang, homólogo do referido país.
Quanto a Passos, ajeitava a gravata e desembaciava os
óculos. Habituado a pensar em medidas anticonstitucionais, o primeiro-ministro
bem podia voltar a quebrar a constituição, mas desta feita, a constituição
daquele grupo de países que integra agora um patinho feio. Permitir a entrada
da Guiné Equatorial é como se uma família de hamsters adotasse uma cascavel.
Uma serpente que se disse “satisfecha” como quem fala com a língua bifurcada.
A convivência com o senhor Teorodo fez-me lembrar a série
Prison Break, em que também havia um tal de Theodore Bagwell (T-Bag), um
violador da pior espécie. É que estamos precisamente a falar de um país que
viola tudo e mais alguma coisa, e só não viola mais porque pouco mais resta.
Ademais prevê na sua legislação a pena de morte, curiosamente com mais morte do
que pena da sua população.
Outro dado curioso nisto tudo é o facto de Luís Amado,
senhor digno de uma respeitável barba grisalha que tenciono igualar quando
tiver a sua idade, ser administrador do Banif, banco onde a Guiné Equatorial
vai investir 133 milhões de euros, tendo sido ele também um dos responsáveis
pela organização da cimeira que visava negociar a entrada daquele país na CPLP.
Por último só questiono mais um assunto: os Jogos da CPLP,
que todos os anos se realizam com jovens dos países do grupo. Bom, caso um dia
venham a ser organizados na Guiné Equatorial, eu pensaria duas vezes antes de
embarcar. É que a frase “deixar a pele em campo” adequar-se-ia mais do que
nunca. E como se diz por lá, ainda que em espanhol, morrer ou ganhar é
desporto.
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