Quando era miúdo tinha um hábito estranho para as crianças
daquela idade. Quando ia para a cama – ou melhor, quando me obrigavam a ir –
ligava o rádio da mesinha de cabeceira para ouvir algo antes de dormir. E
ficava aborrecido quando apenas havia música, sem palavra, porque a TSF só dava
as notícias de meia em meia hora. Mas, pouco antes, passava uns segundos de
publicidade, e aí já me sentia mais confortável. Já não estava sozinho naquele
quarto escuro e parecia que tinha alguém ali comigo.
Este texto é sobre uma situação semelhante. Quando se está
longe de casa, é como se na rádio apenas passassem coisas que não são para ti.
Iguais para todos, descaracterizadas, sem um toque pessoal. E, finalmente,
quando te pões a caminho dos teus, mesmo com uma viagem longa pela frente,
começas a ouvir a tal publicidade, que te diz que tudo o que queres vem já a
seguir, que aquela pessoa está logo ao virar da curva, que algo ou alguém está
ansiosamente à tua espera.
O mesmo acontece quando recebes uma mensagem de alguém. Ainda
não leste, só sabes o nome. A tal publicidade. Sabes logo que dali não vai sair
nada de mal, pelo contrário. Esticas os lábios só de ler um nome, um nome que
podes todos os dias ler na tua lista de contactos mas que naquele momento se
dirige a ti, e só a ti. Por fim, lês. A publicidade acaba e é hora das
notícias. O quarto deixa de ser tão escuro e passa a estar ali alguém contigo.
Melhor só mesmo quando esse alguém te prolonga o sorriso daqui até ao espaço e
te obriga a olhar para o céu.
No fundo, esta história é sobre alguém que me obrigou a
olhar para o céu, sim. O mesmo céu que ambos partilhávamos a centenas de
quilómetros de distância. Alguém que me fez procurar por algo, que lá colocou
um sinal para que eu o pudesse ver. Mais do que uma carta, uma mensagem, uma
fotografia… foi um balão. Um balão que alguém largou, que tu largaste e que
subiu, que não foi largado para mais ninguém. Algo que tinha o meu nome escrito
no “Para:” e o teu no “De:”.
E eu olhei para as nuvens. Não sei bem se o vi, mas as
aparências iludem, não é? E de um momento para o outro, quando soube as
notícias, aquele balão desceu precisamente na minha direção, delicadamente,
cheio de ar fresco que me soube (e me sabe) tão bem.
E hoje, naqueles momentos menos bons, quando fecho os olhos
com força e me agarro ao telemóvel como que para pedir ajuda para o que me
aperta aqui dentro e a quem os poetas chamam saudade, lembro-me do balão. Olho
para o céu e lá está ele. Sempre. E digo para mim pensando em ti: obrigado.
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