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Endireitar

Agora que acalmou a poeira das Europeias, aqui o artista já pode lançar uns berros para o ar com a esperança de ser ouvido por alguma alma incauta. A confusão que daí resultou na esquerda não é para aqui chamada, pelo contrário. Quero focar-me na direita, “vira tudo” como diz o arrumador que nos tenta sugar 40 cêntimos quando não há mais carro nenhum a estorvar.

É, pois, da extrema-direita que falo e das razões que nos devem fazer temê-la. E não estou a falar da baixa de forma do Nani nas alas da seleção. Refiro-me sim às correntes que crescem por essa Europa fora que nem cogumelos e, pior, há quem queira fazer arroz de míscaros com isso sem saber os perigos que corre.

Fungos à parte, Marine Le Pen, líder da Frente Nacional, partido francês de extrema-direita, assegurou por estes dias que não pretende destruir a Europa, mas sim a União Europeia. Bom – digo eu à Marcelo Rebelo de Sousa – há que começar por algum lado e, se for pelo mais fácil, melhor. Le Pen sabe o que diz quando afirma que a Europa vive uma guerra económica. Crescer a olhos vistos como cresceu o seu partido não pode ser resultado de outra coisa que não uma preparação bem suástica…perdão, suada das eleições.

Aprendi nas aulas de geologia que a água parte rochas. Infiltra-se nos buraquinhos, congela e provoca clivagens. Pois bem, a extrema-direita atua assim. Entra nos buraquinhos, nos vazios causados pelo desespero e enche-os por completo. Uma vez lá dentro, agiganta-se, expande-se e abraça toda a gente numa só voz. O problema é que a seguir causa mais clivagens, mais buraquinhos. O ciclo recomeça com mais força e é assim que os adeptos da extrema-direita querem implodir a rocha, apesar de tudo sólida, da Europa.

Acontece que nós não somos meros calhaus. Bem, eu não sou. E por isso penso que os responsáveis pelo barco deviam focar-se mais nas ratazanas que querem tomar o navio, em vez de as ignorarem ou tentarem escondê-las dos passageiros. Já que os políticos daqui do burgo preferem brincar aos cowboys, haja alguém que nos aconselhe. E se indicar um caminho pode ser entendido como ordem, desaconselhar outro não é mais do que o dever de quem tem presente o passado. José Régio já o dizia:

“Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!”


E ninguém o chamou de estúpido.

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