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Perdidos


A pergunta faz todo o sentido: como pode alguém estar perdido quando não tem para onde ir? Este texto é sobre os perdidos desta vida, aqueles que se só se encontram a si mesmos nas sombras, que vivem escondidos do sol que alguém lhes tapou. Porque a culpa de quem se perde nem sempre é sua.

Aprendemos desde cedo que temos um caminho pela frente nesta vida. E que é dos desvios que nos devemos precisamente desviar. Mas há quem não siga a linha, há quem se deixe guiar pelos mais selvagens instintos e se perca na azáfama de uma sociedade que cada vez tem menos tempo para quem não se encontra. O ‘só faz falta quem cá está’ nunca foi tão palavra de ordem como agora e quem ficou pelo caminho será um dia pó que quem vem atrás vai pisar.

Dois homens podem ter o mesmo mapa e irem parar a destinos diferentes. Um deles pode ter pouco dinheiro e conseguir guiar-se com mais ou menos dificuldade; o outro pode nadar em notas que não são elas que vão fazer uma ponte sobre o abismo.

As bússolas do destino parecem divertir-se a jogar à vez, num sádico lançar de dados para ver o que as marionetas vão fazer a seguir. Por vezes parece tudo uma questão de sorte. Por vezes parece que não temos controlo sobre nada, que nada do que façamos interfere no rumo que nos traçaram. E é nessa altura que nos sentimos – e que teremos o direito de nos sentirmos – completamente perdidos.

É nessa altura que há quem procure caminhos alternativos. Atalhos, se lhe quisermos chamar assim. Mas os atalhos costumam ser de sentido único, pelo que quem se enganar, dificilmente consegue voltar atrás. E os dois caminhos vão-se afastando, até deixarmos de ver o outro lado, até deixarmos de compreender para onde deveríamos ter ido. Até deixarmos de ter para onde ir, deixarmos de ter um destino, um foco, uma meta. E passamos a vaguear, até sabermos de cor as rugas da parede em que batemos constantemente no labirinto em que nos transformámos.


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