Vi ontem a entrevista de Pedro Passos Coelho na SIC com José
Gomes Ferreira. Calma, não se vão já embora que este não é um texto sobre
política. Pelo menos sobre política pura e dura. Fiquem mais um pouco que eu
não demoro muito. Vou apenas opinar sobre a maneira como falou o nosso
primeiro-ministro.
Há grandes comunicadores entre os políticos portugueses – é
um facto. Paulo Portas é um deles, José Sócrates é outro e até Durão Barroso
parece ter andado a ter aulas com os outros dois. Serve isto para dizer que
Passos Coelho ainda não está à altura dos citados, embora esteja a fazer
progressos. Quem viu o líder do PSD quando estava na oposição e quem o vê
agora. Mais velho, mais anafado, mais – sem qualquer tipo de trocadilhos –
seguro.
Estava Gomes Ferreira a fazer-lhe perguntas diretas e eu, na
minha bela maneira irritante de antecipar tudo, a tentar adivinhar como ia
responder. Coelho lá foi adiando a resposta inevitável, até ao momento em que
me fez rir. E convenhamos que não é fácil alguém rir-se com palavras de tal
figura. O que é facto é que, a dada altura, é feita uma questão incómoda de
“sim ou não” ao primeiro-ministro e este acabou por dizer aquilo que eu tinha
pensado: “Repare que…”.
Não sei se alguma vez “repararam” que aquela é uma das
infindáveis maneiras de fugir às questões. O “sabe que”, o “antes de responder
à sua questão” ou apenas dizer o nome do entrevistador são armas eficazes no
discurso político. E não precisei de ir às aulas todas (na verdade, quase
nenhuma) de Comunicação Política para entender que Passos Coelho está a crescer
e já não é o mesmo rapazote dos famosos “boys”. Parece agora pai de Relvas, tio
de Poiares e primo de Assunção Esteves, aquela familiar da aldeia que vai à
cidade uma vez por ano e que, a partir de Santarém, já pensa estar em Lisboa.
Coelho pensa, e de que maneira, antes de responder. Ganhou
calo, possivelmente por estar sempre em bicos de pés quando Merkel veio a
Portugal. Não para a impressionar – nada disso! – mas apenas para beijar a
senhora, dona da típica altura germânica. Coelho ganhou confiança e não teme
agora quem o questiona, ordenando até ao entrevistador que “reparasse”. Bom,
fosse este texto escrito por Catarina Martins do Bloco e a resposta seria “Você
é que tem de reparar a m***a que fez!”.
“Não é assim”, disse Passos a Ferreira, desmentindo factos
que o entrevistador lhe apresentara momentos antes. De nada serviu a José Gomes
ter pintado o cabelo de cor grisalha para impor respeito, ter usado os óculos
ao fundo do nariz como Júlia Pinheiro faz quando discute o caso do Meco no seu
programa matinal, nem ter lançado um livro à pressa antes que a Troika abalasse
aqui do burgo.
Na verdade, Coelho pareceu uma
lebre esguia e veloz por entre a folhagem em que Gomes Ferreira procurava
armar-lhe ciladas. Seria curioso ouvir a reação de cada um no final da
entrevista. Uma espécie de flash interview com os dois intervenientes para que
os fãs pudessem saber o que pensam. Sim fãs: os de Ferreira criaram-lhe uma
página no Facebook; os de Coelho costumam celebrar os seus títulos na escadaria
do Parlamento. E é com cada título que o brindam…
Comentários