Quem disse que para a frente é que é caminho? Encontrem-me o
sacana e tragam-mo vivo, que temos de ter uma conversa séria. Os miúdos
aprendem isso em pequenos, os carrinhos andam para trás. De facto, as pessoas
são como os carros: se não recuarem, como é que dão a volta?
A coisa é simples: ninguém gosta de ceder. Seja numa
discussão, num braço de ferro, num jogo de damas ou no trânsito. Não faz parte
da nossa natureza, pronto! Temos instinto competitivo e dar a outra face soa
absolutamente a derrota. Pois oiçam, amigos, que o seguinte momento é bem capaz
de ser o mais filosoficamente barato de todo o texto: saber recuar no momento
certo é meio caminho andado para seguir em frente.
Vá, parem lá com isso que me estão a deixar envergonhado,
foi só uma frase bem articulada. Mas totalmente verdadeira. Reparem que duas
linhas paralelas nunca se vão tocar até que uma delas ceda. Vejam que o
presidente da Ucrânia teve de abalar se queria continuar entre os vivos. Notem
que Jorge Jesus abdicou do rolo compressor se queria que a equipa passasse de
fevereiro.
O que tento dizer aqui é que não há mal nenhum em dar um
passito atrás. Ricky Martin já o dizia nas suas músicas, ainda que falasse para
uma Maria que afinal era um Manuel. Ceder é muitas vezes a solução mais razoável
para contornar os problemas mais bicudos, como aquelas rotundas mal feitas em
que os autocarros não passam sem pisar o lancil. Recuam e já contornam o
problema, em vez de passar por cima dele, com os solavancos que disso
resultariam.
Atentem no futebol. Até o melhor do mundo recua uns metros
para marcar um livre. E aí, caríssimos, está o segredo do sucesso: por muito
que pareça, às vezes não estamos a regredir, mas a ganhar balanço.
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