Não faço ideia do termo técnico. Mal percebo de roupa de
homem, quanto mais de mulher. Mas da mesma maneira que me queixo se uma abelha
me pica, também não posso ficar calado com aquele par de calças. Sim, este é um
texto sobre – e só sobre – um par de calças. Estúpido? Muito.
Eu explico: noite, bar, ela. Situados? Vamos às calças
então. Pretas, e de que maneira. Todos aqueles flashes das luzes, todas aquelas
intermitências esbarravam naquelas calças pretas como tordos num vidro. E ainda
assim, davam bem nas vistas. Não sei se era esse o objetivo mas chamaram-me de
imediato a atenção.
E nem era pela maneira como se moviam, que a música até
estava mais para se cantar do que outra coisa. Mas coisa era o que havia ali.
“Aqui há gato” pensei eu. Nunca tive gatos mas sei bem que eles são elásticos e
passam baixo das portas como as cartas do correio. Só um superpoder desses
podia superar o desafio de passar entre aquelas calças e o que quer que
estivesse lá dentro, de tão justas.
Pensei até em dizê-lo à miúda, mas as mãos dela não pareciam
tão amigáveis como a cara. Um par de calças à distância é melhor do que um par
de galhetas nesta linda barba. Bem, podemos discutir isso… mas não o vamos
fazer.
Efetivamente este é um texto sobre aquelas calças. Eu não
sou de ferro nem elas eram ímanes, senão a coisa estava explicada. É mais
complexo. Perplexo fiquei eu com tal fenómeno. Ainda hoje estou para saber se
ela encheu as ditas de feromonas e preencheu os buraquinhos com aquela espuma
de tapar as frestas que se compra no MaxMat.
Música após música, cerveja após cerveja, perna após perna,
lá íamos dançando. Eu e os meus olhos, a miúda e as calças dela. Sim senhor,
que classe! Classe sim, que isto não é a Casa dos Segredos. Eram umas calças
íntegras, e na íntegra! Não como aqueles minicalções que a juventude exibe
agora nos dias menos frescos. Que já foram calças há muito tempo, mas perderam
a vergonha – e perderam-na toda – e agora não se enxergam!
Mas já me estou a alongar. Afinal, o que tinham aquelas calças
pretas de especial? Era o que eu gostava de lhes ter perguntado. “Oiçam lá, já
estou há um bom bocado a olhar para vocês e…” - Não dava para mais porque
entretanto elas iam-se passar. São calças, passam-se. Ao contrário das
mulheres, as calças ficam com rugas caso não se passem. Sorte a nossa, rapazes.
Porque quando as coisas aquecem, mulher que se preze não se baixa. Já as
calças…
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