Há uns dias passei pelo Jumbo e deparei-me com uma – na minha
opinião – excelente ideia: o cliente pode agora comprar a granel. O que quer.
Ao peso. Nem mais, nem menos do que aquilo que precisa. Com licença, desculpem,
deixem agora passar o filósofo que há em mim e sentem-se, que isto é capaz de
demorar.
A coisa é simples: preciso de 138 gramas de arroz. Chego,
encho um saquinho, peso, pago e venho-me embora. É tão simples que até o famoso
Gervásio ia perceber esta. O que propunha era que Deus, que sei que me está a
ouvir, adotasse o mesmo sistema neste mundo. Uma adoção simples, sem direito a
referendo nem nada dessas mariquices. Salvo seja.
Vendo bem as coisas, tudo na nossa vida vem nas proporções
erradas. Ou vem sempre a mais, ou vem sempre a menos. Já diz o ditado: o
apressado come cru, o atrasado come frio. Eu cá prefiro as coisas quentes. E
não estou a falar daquele fim de tarde (ou noite) em Ibiza.
Ia, portanto, no pedido a Deus. Queremos calor para ir à
praia, Ele transforma as florestas deste
país num barbecue. Queremos chuva para as colheitas, Ele engorda o Tejo até o
pobre rio não ter leito que lhe sirva. Mas pior acontece nos sentimentos.
Queremos que o puto não esteja tantas horas à frente do computador, Ele diz-lhe
para se meter na droga. Queremos meter conversa com aquela miúda que gostamos,
Ele empurra-nos a mão para as nádegas dela. Só queremos divertir-nos, Ele manda
o cupido fazer das suas. Haja paciência. Neste caso, santa!
É disto que eu falo, de exageros. Só posso concluir que Deus
não tem balança para pesar nem régua para medir as coisas, daí dizer-se que
somos todos iguais aos olhos de Deus, já que Ele não tem um, quanto mais dois
pesos e duas medidas. E é a segunda conclusão a que chego sobre Sua Divindade,
depois de perceber que bebe Sagres, mas isso é outra história.
Sei que não sou ninguém para Lhe dizer o que fazer, nem
tenho a experiência d’Ele em criar mundos e tal, mas sinceramente gostava que
trocássemos papéis por um dia. À filme, mesmo. Subia lá cima, com uma balança
debaixo do braço e um lápis na orelha, que é sinal de saber fazer contas, e o
sistema ia funcionar: as pessoas pediam, eu pesava, elas pagavam e toda a gente
ficava feliz, no conhecido slogan “Eu quero posso e mando”. Ideias de Jumbo.
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