Não é de todo comum escrevinhar aqui sobre política, mas os
acontecimentos dos últimos dias assim o ditam. Ora, caríssimos, sabeis todos
que estamos em Portugal, onde tudo é possível, do bom ao mais inóspito.
O momento é grave e, de repente, a novela da morte de
Mandela foi substituída pela novela da morte do governo. Todos opinam mas
nenhum arrisca um palpite sobre o melhor cenário, talvez porque não se
vislumbra nenhum. O mal-amado Coelho parece respirar cada vez com maior dificuldade,
devido à gravata que lhe aperta o pescoço, em forma de CDS.
Tudo começou quando Gaspar, quiçá orientado por uma estrela,
decidiu pegar nas suas coisinhas e procurar outro norte. A ele seguiram-se mais
reis magos, procurando a saída pela porta das traseiras, sem deixarem ouro nem
incenso, enquanto a economia do país continua a mirrar.
Portas tirou o tapete à coligação, onde agora quaisquer
passos parecem utópicos. De facto, o apelido “Portas” poderá ter um paralelo
naquelas portarias dos típicos bares do Texas. A porta balança ao ritmo de quem
passa: ora para dentro, ora para fora, ora vai, ora vem. Mas o que a porta
realmente parece querer é ficar no mesmo sítio! Paulo Portas é semelhante: ora
pede o divórcio a Passos, ora lhe lança um olhar sexualmente provocador nas
reuniões de emergência. Mas, dizem os críticos, o que o líder do CDS realmente
quer, à imagem do seu partido, é garantir um lugar no governo. Neste ou no
próximo. Que mais vale jogar… pelo seguro.
No PS come-se lagosta ao som de foguetes. As gambas já sabem
a eleições antecipadas, mas um ou outro brinde com mais pujança parece ser a
única maneira de António José Seguro partir a loiça. Compreendo que não seja
fácil substituir o carismático Sócrates, mas os socialistas – opinião pessoal –
mereciam melhor sorte.
Andando mais para a esquerda surgem-nos Bloco e PCP. Contra
tudo e contra todos, numa luta interminável, lá vão gritando aos sete ventos
que a Troika não é bem-vinda, fazendo valer o lema “mais vale só que mal
acompanhado”. O problema, parece-me, é que nenhum dos dois quer realmente
chegar ao poder. Justamente como aqueles clubes que perdem de propósito nas
últimas jornadas para não subirem de divisão, porque preferem ser os primeiros
dos últimos do que os últimos dos primeiros.
Mas avancemos, que já se faz tarde. Caso se verifique o
cenário da queda do governo, alguém terá de marcar eleições, mas é sabido que
Cavaco Silva é como o cometa Halley: só aparece uma vez a cada 76 anos. Pior do
que isso só mesmo as opções de escolha que vão estar presentes no boletim. Nos
exames nacionais havia um velho truque: quando existiam duas hipóteses
semelhantes, uma delas era a resposta certa. O problema é que no boletim poderá
dar-se o caso de haver não duas mas cinco opções iguais e, ao contrário dos exames,
não há lugar à opção “Nenhuma das anteriores”. Ou melhor, até haverá. Daí eu
prever uma nova coligação. Entre nulos e brancos.
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