Estou revoltado. Não suporto mentiras e as despedidas são
umas mentirosas de primeira ordem. Agora percebo porque há cada vez mais gente
que não gosta delas e não é apenas uma moda.
As despedidas mentem-nos descaradamente e voltam a fazê-lo
na próxima vez. São como as máquinas multibanco: parece que nos estão a
dar algo, mas na verdade tiram-nos o que temos de mais valioso. Sossegam-nos momentaneamente para que não pensemos no que virá a seguir. Pior. As despedidas são viciantes. Drogam-nos com o carinho
de um beijo, traem-nos com o calor de um abraço. E o que temos no dia seguinte?
Uma tremenda ressaca, como se tivéssemos bebido todo o Martini Bianco deste
mundo.
Bebemos e despedimo-nos socialmente. Um fino à tarde com os
amigos, um até logo à noite. Uma saída até amanhecer, um até amanhã à tarde. O
problema – como tudo na vida – é quando abusamos. Os copos e as despedidas não
deviam ser muito mais do que isto… mas são sempre. É mais forte do que nós.
Divertimo-nos, dançamos e bebemos, abraçamos, beijamos e sentimos. Mas o mar deixa de ser de rosas quando chegamos a casa e vamos dormir. Quando dizemos adeus e olhamos uma última vez para trás. E depois de toda a
festa, alegria e amor, chega a fatura, pesada e cortante. A cabeça pesa, o
coração explode, sentimos um calor tão frio que nos dá arrepios.
Chegam os arrependimentos. Não devíamos
ter bebido tanto, assim como não devíamos ter vindo embora. Aquele último shot estragou
tudo, tal como o último abraço nos deixou marcas profundas. Hoje agarramo-nos à
água como quem se agarra ao telemóvel para matar a sede que as saudades fazem
sentir. Aquela vodka que tanto nos animou deixa-nos agora mal dispostos.
Aquele sorriso que ontem nos derreteu completamente hoje esmaga-nos o peito.
Pensamos que foi só mais uma, já devíamos estar habituados.
Dizemos que nunca mais mas, no fundo, sabemos que hoje mesmo repetíamos tudo.
E mantemos a esperança de que tudo isto não tenha passado de
um até já. Uma despedida, portanto.
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