Às vezes penso que estou a falar com pedras. Sim, pedras. O
meu caro leitor já experimentou dialogar calmamente com um calhau rochoso? Pois
é exatamente isso que eu sinto. E não estou a falar do cão que me ignora e rói
os chinelos na mesma ou daquele amigo que foi ao balcão e não trouxe a mini que
pedi.
Refiro-me antes às pessoas que, por mais direta que seja a
mensagem, não conseguem percebê-la. Iniciado o habitual e tão português
processo de atribuição de culpas, vamos aos factos: eu não tenho problemas com
a Língua Portuguesa e o sotaque viseense parece estar no mínimo. Não sou gago,
não falo para dentro ou entre os dentes, nem baixinho ou demasiado alto. Enfim,
sou uma pessoa normal e, por isso, a culpa tem de estar no cartório do lado de
lá.
Eu bem tento, esforço-me por retirar tudo o que é acessório
da conversa e dou ênfase ao que é importante. Tento não distrair em vez de
informar mas, por vezes, a outra pessoa parece não estar lá! E quando está,
pega em todas as pontinhas que não interessam nem à Teresa Guilherme, em vez de
agarrar veementemente a ideia que lhe esbarra no queixo!
Perante esses casos, e não sendo eu adepto das entrelinhas, sou
forçado a fazer algo que não gosto particularmente: conduzir a conversa. A
pessoa vai recolhendo os doces que eu vou deixando até chegar à boca do lobo. O
único problema é que o lobo não pode estar demasiado perto, sob pena de a
pessoa se aperceber que está a ser levada! Estamos perante uma pescadinha de
rabo na boca! Rabo esse que se queria na boca do lobo! Lobo esse que por sua
vez sou eu!
Dúvidas? Não me diga que o leitor é de granito...
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