A NASA admitiu há uns tempos que a vida na Terra pode ter
começado no Alentejo. Não duvido nem por um segundo que um organismo unicelular
tenha escolhido
Cabeço de Vide para
despontar para o mundo. A minha dúvida é outra: pode Portugal gerar
agora um novo tipo de vida?
É disso que todos precisamos, dizem os jornais. De uma vida
nova! De renascer das cinzas! Ora se as leis da física foram quebradas há
milhões de anos neste jardim à beira-mar plantado, porque não pode aparecer
novamente em terras lusitanas uma moderna fonte de vida? Daquelas iluminadas
com jatos coordenados entre si como há nas rotundas?
Tenho pensado no assunto nas poucas horas que dedico ao ócio
e, entre uma ou outra bolacha maria, lá vou desenhando uma nova vida à qual
poderíamos facilmente dar um nome histórico. Pensai comigo: vida AT, vida ET,
vida DT.
Vida AT era a que havia Antes da Troika. Ainda se lembram?
Ah como era bom este país... O dinheiro público saltitava entre a Expo98 e o
Euro2004, o povo entre feijoadas na Ponte Vasco da Gama e a autoestrada para o
Algarve, Fernanda Ribeiro de recorde em recorde e Carlos Cruz de miúdo em miúdo.
Tudo mudou quando eles chegaram e tivemos de nos habituar a
viver entre eles. Começou a vida Entre Troika, digna de um verdadeiro ET, tal o
esforço extraterrestre para gerir um orçamento familiar em Portugal.
Foi então que os cientistas, esses loucos de bata branca tal
como a minha ex-professora de álgebra, mas sem botox, concentraram atenções naquele
pedaço de terra que serve de fundo ao Windows XP, e que dá milho no verão, azeite
no inverno, e vida nos intervalos. Sei de fonte segura que a vida nasceu numa
sexta-feira, o que explica a alegada aversão ao trabalho do pessoal alentejano.
E se em Guimarães podemos ler o letreiro “Aqui nasceu Portugal”, os nossos
amigos do sul bem podiam alinhavar umas palavras do género “Aqui nasceu tudo o
que mexe”. Pensando bem, quer-me parecer que já li este lema numa clínica
especializada no tratamento de disfunção erétil.
Caro Alentejo, se os teus campos me estão a ouvir, torna
verdadeiras as minhas preces e fabrica uma nova vida para nós! Uma vida DT –
Depois da Troika, em que toda a gente pudesse ir comer uma carne de porco à
alentejana, em São Teotónio, ou um belo cozido, em Canal Caveira. E sempre com
um lenço vermelho ao pescoço, igual ao do Tim.
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