Há uns tempos atrás, alguém me perguntou porque acordamos sempre na melhor parte dos sonhos.
Admito, não soube responder. Aliás, também tenho essa dúvida e até hoje ninguém me explicou. A verdade é essa: estamos na melhor parte do sonho quando a realidade – aqui chamada de despertador – nos chama para voltarmos a si, sem qualquer tipo de remorso ou compaixão por nós. A realidade é assim, inimiga dos sonhos. Portanto, não deixa de ser curioso o facto de querermos tornar os sonhos em... realidade!
Mas porque raio acordamos sempre na melhor parte dos sonhos? Qual é a tua cena, realidade? O que te fizemos? Fazes isso às pessoas só pelo facto de elas quererem fugir de ti por um bocadinho? Fazes isso às pessoas por elas quererem conduzir aquele carro para o qual nunca vão ter dinheiro, beijar aquela pessoa que nunca vai olhar para elas "daquela" maneira, ou apenas desligarem umas horas dos problemas do dia-a-dia?
Se pensarmos assim, as conclusões são fáceis de tirar: a realidade destrói os sonhos. Fere-os de morte e condena-os ao fracasso. Mas não podemos passar a vida a lamentar a nossa sorte e a mandar a realidade dar uma volta ao bilhar grande. Pensemos antes no lado positivo de tudo isto. Se é um facto que acordamos sempre na melhor parte dos sonhos, também é verdade que a realidade nos acorda na pior parte dos pesadelos. Pois! Nisto não tinham vocês pensado! Podemos por isso afirmar que a realidade nos dá um equilíbrio entre o sonho e o pesadelo. Entre o que ambicionamos e do que fugimos. Entre o que amamos e o que nos repele. A realidade é que manda, a realidade é que impõe as regras. Às vezes dá-me vontade de a acusar de abuso de poder! A realidade é como o vento: não se vê mas sente-se, e não gosta de se misturar com os sonhos, diz que dá sempre tempestade. Para os mais sonhadores, a realidade é como um buraco: quando menos se espera, cai-se nela. Para os realistas, a realidade é a base de tudo o que vêem, fazem, sentem. Para mim, a realidade funciona como um mediador entre as pessoas que passam o dia à espera dos sonhos e as que deixaram de acreditar neles ou têm simplesmente medo de sonhar.
Isto é bom? É mau?
Não. É isto. É real.
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