Avançar para o conteúdo principal

"Ninguém" é tudo

Nunca subestimar o poder de uma música. Aprendam, faz sentido. Que ninguém duvide disso. Que ninguém pense o contrário por um segundo que seja. Porque ali, naquele momento, só estava eu. Tanta gente à minha volta e só estava eu. E mais ninguém.

Ninguém podia estar ali para além de mim. À primeira vista podia pensar que sim, que tu podias perfeitamente estar ali, que estavas em todas as notas daquela música. Que pairavas naquele ar, que estavas à distância de um sono. Que estavas ali comigo. Mas não estavas. Não estava ninguém.

Quando a letra me dizia que aquele era o meu lugar, quando as luzes davam cor ao que os olhos só
viam a preto e branco. Quando um sorriso forçado me servia o último copo da noite, quando passava a mão pelo cabelo, quando sorria, fechava os olhos e levantava a cabeça. Era só eu. Eu e ninguém.

Não estavam as tuas cores, não estavam os teus sons, não estava a tua força. E ainda assim lá estava eu, fechado como um bebé na barriga da mãe. A sorrir feito tolinho, a sorrir feliz. Mais do que isso: a sorrir como ninguém. E esse ninguém deve ser mesmo muito importante para me roubar tanta atenção.

Quando é tão comum dizer-se que precisamos de alguém, prefiro pensar que precisamos de “ninguém”. Porque, garantem, “ninguém” é perfeito. “Ninguém” rouba o nosso coração de forma definitiva e infinita. “Ninguém” pode escolher por nós, “ninguém” pode tomar as nossas dores, “ninguém” está sempre bem.

Naquele momento, “ninguém” estava lá para mim. “Ninguém” estava em perfeita sintonia comigo. “Ninguém” percebia aquela música.

Enfim, “ninguém” aguenta tudo. Porque “ninguém” é forte, o mais forte do mundo. Forte como “ninguém”.

Comentários

D disse…
Não percebo porque não tens comentários homem!!
Este texto merece, merece abusivamente!
Porque de uma forma simples, gentil, serena e apaixonada transmitiste o que é esse valor do amor por nós, numa sociedade que nos pede constantemente que tenhamos outro, que sejamos um projecto com o outro, que poe preços a 2 e que encosta a canto todos os que têm a bravura e coragem de estarem sozinhos.. porque sim!
Da minha parte obrigada, foi terapeutica e revitalizante.
Lembrei-me que era eu que estava a lê-lo e mais ninguém ;)

Os mais vistos do momento

Os malucos do riso

Porque somos tolinhos se rimos sozinhos? A questão rima mas impõe-se nos dia de hoje. Quem mostra os dentinhos ao mundo sem que expresse visivelmente o motivo é porque tem um parafuso a menos, bebeu uma garrafa de moscatel ou experimentou o louro tostado que oferecem no Rossio. Será? Pois bem, eu chamo tolinhos aos que censuram estes risos ou sorrisos. Entendam de uma vez por todas que quem ri sozinho é porque, na verdade, não o está. E não, não está com uma piela. Ouviu uma música na rua que fez lembrar-lhe um rosto, viu um carro que o transportou para uma viagem, sentiu um aroma que lhe reavivou um beijo. Mas não, ficam todos a olhar para o maluquinho. Se estivesse a chorar, iam ter com ele para perguntar o que se passa. Mas como ri, ninguém quer realmente saber e preferem fazer troça da situação. Quem sorri na rua sabe porque o faz. Leva à sua volta uma aura de otimisto, de energia positiva que os outros deviam reconhecer, apesar de não saberem a origem. É verdade que ...

Chegou!

Todos esperam um ano por ele. O Verão sabe como nos conquistar. Faz uso das suas características para que estejamos ansiosos pela sua chegada. Para qualquer estudante, Verão rima com férias, e logo as “férias grandes”, que, mesmo tendo esse nome, esgotam-se num instante. Chega então de aulas, de livros, de professores e de ter de acordar cedo. Um dia de férias digno desse nome, começa ao meio dia e acaba às 6 da manhã, numa qualquer discoteca, com boa música, boa gente e, claro, gente boa também, para animar! Mas o Verão significa muito mais do que isso. Praia, por exemplo. Há mar e mar, há ir e… não voltar! Era o que apetecia muitas vezes, ficar ali o resto da vida, a absorver os raios solares e a brisa marítima. A jogar futebol, voleibol, ou às cartas, a ler um livro, a ouvir música, a mexer na areia ou na água, a mergulhar, a surfar, a boiar, a conversar, a brincar, a caminhar ou a correr. Tantas coisas que podemos fazer na praia, que davam uma linda vida. Mas o Verão tem mais! Enq...

Ela é 96

Escrevi aqui, há quase dois anos, um texto sobre aquelas coisas minúsculas que nos impedem de seguir em frente. “ Há sempre algo ” que não controlamos e que aumenta o atrito na estrada para a meta. Hoje trago um problema ainda maior: quando os entraves que surgem à nossa frente foram lá colocados… por nós próprios. Estou a falar daquelas desculpas bem criativas, daquela preguiça que ataca no momento mais inoportuno, daquela Dona Inércia que dava a cara num anúncio ao falecido BES. E é precisamente num banco que nos sentamos enquanto pensamos o quão fantástico era estar de pé. Faz pouco ou nenhum sentido, mas é assim. Conseguimos encontrar no mais pequeno pormenor uma razão do tamanho do mundo para não avançarmos. Vemos em qualquer cisco uma duna imensa de areias movediças. Pedimos uma semana para decidir algo que nos tomaria 10 segundos a refletir. E acabamos por não lhe ligar porque ela é 96.