O sol está de frente, a fazer-me a vida negra no para-brisas;
à esquerda só vejo árvores, que vão passando por mim com velocidade; à direita
espreito o mar, imenso e calmo como que a pedir um mergulho. Sei que ainda não
passei. Só não sei bem onde ficas.
Um poeta diria que é tão estranho quanto fácil perdermo-nos
num sítio onde realmente nunca chegamos a ir. Procurei em todos os mapas que
tinha, fui ao sótão buscar as enciclopédias guardadas há anos e até comprei um
GPS dos melhores. Tinha a certeza de que estava preparado para chegar ao
destino.
Fiz-me à estrada.
Já não tenho aquela idade dos porquês nem do perguntar a
cada dois minutos se falta muito. E por isso nem dou conta de que estou há
horas à espera que apareça um sinal. Uma tabuleta, uma ajuda, algo familiar.
Não me apercebo de que o sol já mudou de sítio. Para mim continua de frente,
forte como no verão. Não reparo que o outono levou todas as folhas das árvores
ao meu lado esquerdo e que agora só restam ramos secos. Não distingo sequer as
vagas gigantes no oceano tão típicas do inverno.
Continuo. O tempo passa em quilómetros. Não me preocupo com
o ponteiro da velocidade nem as rotações do coração que vai a mil. Uma mão no
volante, a outra numa garrafa de água; os olhos no horizonte e a cabeça além
dele. “Onde ficas? Onde raio ficas?” grito para mim mesmo. Tenho a certeza de
que ainda não passei, de que ainda não te vi. Pergunto a quem vou encontrando e
todos me dizem que és perto, que estás perto, que vou logo ver-te quando apareceres.
Dizem-me que és já ali, que estás linda como sempre e que tens lugar para mim.
Mas nunca mais chego, nunca mais te chego. Começo a
questionar se me enganei. Não! Aumento o volume da música para me afastar tal
ideia. Tento cantar aos berros, acelero mais um pouco. Mas as músicas começam a
repetir-se na rádio, mesmo percorrendo todas as frequências. Começo a ouvir as
mesmas notas, os mesmos tons. Tudo fica um loop gigante, como esta maldita
estrada onde ando às voltas há séculos!
Começo-me a rir. Só em faltava mais esta, rir-me da minha
pouca sorte! Rio, rio, rio-me que nem um perdido, como se jogasse ao ar a
bússola da salvação. Não quero saber de mais nada se não te encontro. E, como
louco que estou, escapa-me o mais óbvio de tudo:
Só não te encontro porque estou completamente perdido em ti.
Comentários