Avançar para o conteúdo principal

Os limitados e a derrota do Benfica

Já não me lembro de onde ouvi falar pela primeira vez da faixa erguida pelos adeptos do Benfica no dérbi do futsal, no sábado. Acompanhei o jogo pela televisão e não me apercebi da sua presença, e só dias depois é que vi uma fotografia do momento.

No domingo à noite, após o golo de Jardel, dezenas de adeptos do Sporting corriam para fugir aos engenhos pirotécnicos arremessados a partir da zona dos adeptos visitantes. Mais uma vez, não me apercebi em direto do que se estava a passar.

São dois casos que dão que pensar. Devo dizer que há poucas coisas neste Mundo que me reduzem as palavras, ainda por cima quando o tema é futebol, mas estas fizeram-no. O problema é encontrar adjetivos.

Adoro ver futebol nos estádios mas sei onde vivo e, apesar de apaixonado por este país, também lhe consigo apontar um defeito que muita da sua gente teima em apresentar: copiar as coisas más. O que os indivíduos da vergonha do futsal e do futebol fizeram foi isso mesmo: colaram-se mais uma vez a um rótulo proveniente do terceiro mundo, usaram da reduzida inteligência para se afirmarem como os mauzões disto tudo. E venceram. Derrotaram o Benfica com uma goleada das grandes, daquelas que não nos faz querer levantar da cama no dia seguinte. Derrotaram-me a mim e a milhares de outros que não veem a sua equipa nos jogos fora devido ao receio. E, como vencedores que foram, saíram a rir e a pensar já na próxima.

E a próxima vai acontecer já hoje, frente ao V. Setúbal, quando esses indivíduos, sempre estranhamente acarinhados por quem lhes abre as portas da Luz, rebentarem mais petardos abafando a euforia dos que se preocupam em gritar golo. E este até poderia ter sido mais um dérbi, três dias após o outro. O que iria acontecer caso se jogasse novamente neste clima de estupidez infinita?

Nos jogos europeus, onde as sanções já são dignas desse nome, a coisa resolveu-se com um apelo deprimente no estádio e nos meios de comunicação do clube. Quanto faltará para o dia em que o speaker da Luz peça para que, por favor, não se mate ninguém?

Desconheço se foram tomadas medidas por Luís Filipe Vieira face aos acontecimentos do fim de semana. O otimismo sussurra-me que sim mas a experiência grita-me que não. Vieira parece não estar cá quando estas coisas acontecem e só regressa para assinar o cheque no momento de pagar as multas pelo mau comportamento dos adeptos. O problema é que, por maiores que sejam esses valores, não chegam ao cérebro dos limitados.

Também a Liga, a Federação e o Governo andam a dormir. Olham todos para o lado e, quando alguém os acorda, até são capazes de repudiar verbalmente o sucedido. Não só não chega, como já começa a ser insultuoso para o futebol. É preciso que os limitados sintam as punições. E que as sintam atrás das grades. É necessário que os clubes sejam castigados a sério, não pelo que acontece mas pelo que deixam acontecer. A perda de pontos, por exemplo, tem de ser experimentada rapidamente.

O que aconteceu no fim de semana foi uma das maiores vergonhas a que o Benfica foi sujeito na sua história. Uma das mais pesadas derrotas que sofreu. Já toda a gente percebeu que aquela gente joga contra o Benfica e contra o futebol. Importante seria agora perceber de que lado está quem manda, sendo que quem cala consente e ergue os braços para suportar aquela faixa. Porque dos irracionais descendemos todos. Mas alguns ficaram-se por aí.

Comentários

Os mais vistos do momento

Clave de sol

Um círculo vermelho. E tu no meio. É assim, tão simétrica, a nossa existência. Não fosse o rock’n’roll assolar-me os ouvidos, não fossem os velhos e bons Stones ditarem o ritmo, e era nas tuas curvas que leria a pauta. Autêntica clave, mais forte do que o sol, com mais classe do que a lua. Se nas veias o sangue corre sempre em frente, na cabeça o pensamento diverge sobre todos os caminhos a tomar para chegar a ti. Somos o mapa de nós mesmos, já criámos até um caminho novo, que ninguém tinha previsto e que ninguém percorrera antes. Sem indicações, lá seguimos viagem, cientes de que 2+2 só são quatro se quisermos. Liberdade completa, foi também para isto que Abril nasceu. Existimos em todas as línguas, somos vistos em todos os gestos. Não é preciso explicar a ninguém, porque ninguém ia entender. E, no entanto, entendem-nos desde o princípio. Não fomos feitos um para o outro. Não somos o testo da panela, não encaixamos como Legos, nem temos penteados à Playmobil. Mas a forma como enco...

Afinal havia lontra, já dizia Mónica Sintra

Já lá vão mais de 20 anos deste que Mónica Sintra popularizou o tema ‘Afinal havia outra’, mas permitam-me que esta semana traga tão bela canção à memória. Isto a propósito da arrebatadora notícia vinda de Espanha sobre um alegado crocodilo à solta no rio Douro. Depois de alertas, últimas horas, páginas de jornais em papel e online, chegou-nos o tão temido desfecho: o entusiástico e perigoso crocodilo do Nilo que pôs a Península Ibérica em alerta pode, no cenário mais provável, não passar de uma lontra gorducha e fofinha . Senti-me de imediato como Mónica Sintra e partilhei o sofrimento de quem é enganado até ao último segundo, batendo depois de frente com a verdade, numa colisão frontal de onde ninguém pode sair em bom estado. Apeteceu-me cantar a plenos pulmões que ‘afinal havia lontra’ no Douro e não um crocodilo voraz à espera de um turista ou pescador apetitoso, ao bom velho estilo Jurassic Park. A caricata situação serve, pois, a meu ver, para relembrar três coisa...

Perdidos

A pergunta faz todo o sentido: como pode alguém estar perdido quando não tem para onde ir? Este texto é sobre os perdidos desta vida, aqueles que se só se encontram a si mesmos nas sombras, que vivem escondidos do sol que alguém lhes tapou. Porque a culpa de quem se perde nem sempre é sua. Aprendemos desde cedo que temos um caminho pela frente nesta vida. E que é dos desvios que nos devemos precisamente desviar. Mas há quem não siga a linha, há quem se deixe guiar pelos mais selvagens instintos e se perca na azáfama de uma sociedade que cada vez tem menos tempo para quem não se encontra. O ‘só faz falta quem cá está’ nunca foi tão palavra de ordem como agora e quem ficou pelo caminho será um dia pó que quem vem atrás vai pisar. Dois homens podem ter o mesmo mapa e irem parar a destinos diferentes. Um deles pode ter pouco dinheiro e conseguir guiar-se com mais ou menos dificuldade; o outro pode nadar em notas que não são elas que vão fazer uma ponte sobre o abismo. As bú...