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A mostrar mensagens de novembro, 2014

LUZ - 2."Nós não vamos. Ela vai"

É estranho para quem está de fora compreender como toda uma estrutura gira em torno de uma só pessoa. Éramos centenas, cada um com um papel a desempenhar na vida de Luz. Atrevo-me a dizer que a comum Andreia foi, de longe, o ser humano mais vigiado, condicionado e encaminhado neste planeta, e ainda assim completamente livre na sua liberdade fabricada. Os anos foram passando, Luz crescendo e a equipa mudando. Os anos também passaram por mim e vi entrar e sair muita gente do projeto. Fui escalando na hierarquia das idades, dei uma última palmada nos mais velhos que se retiraram e interroguei vigorosamente os recém-chegados. Gostava de todos e, afinal, foram o que tive de mais parecido com família. É o momento de vos falar de mim. Com uma vida banal até aos vinte e poucos, uma noite de copos na universidade mudou tudo. Copos sim. Sempre consegui conciliar a diversão com o estudo e era frequente perguntarem-me como o fazia. Voltando àquela noite, estava à espera dos amigos de sempre n

O engenho de Sócrates

Estava eu no cinema a ver as aventuras de Katniss Everdeen quando essa maravilha das novas tecnologias móveis me deu a notícia da detenção de José Sócrates durante o intervalo do filme. Pensei, aliás, que o apresentador dos Jogos da Fome fosse interromper a emissão na sala 5 do Colombo para ir em direto para o aeroporto da Portela. Confesso que sou um admirador de Sócrates, ou melhor, das suas capacidades de comunicação. Acho que, como alguns outros, tem o dom da palavra e seria desafiante ouvir as suas declarações em tribunal. Como eu, assim pensaram os inspetores da Polícia Judiciária que de deleitaram nas escutas ao ex-primeiro-ministro nos últimos meses. Ele que foi um dos impulsionadores do programa tecnológico em Portugal. De resto, José Sócrates devia figurar hoje nos jornais não por estar detido e envolvido em esquemas dos quais, infelizmente, já sabemos o nome de cor, mas sim por ter provado que estava certo numa das medidas que tomou enquanto governante. É que em 200

LUZ - 1. Génese

Todos ouvimos um dia qualquer coisa como “não tenhas medo”. Essa parecer ser uma lei universal, um nirvana a atingir, uma paz infinita pela qual devemos batalhar. Também nós pensámos assim, mas numa escala diferente. Se me perguntassem hoje, diria que tudo não passou de uma ilusão. Mas, afinal, o que move o homem senão o sonho? O meu nome é James Grikol e esta é a história de Andreia. Como todas as histórias fazem, também eu tento com ela mostrar algo. Acima de tudo, quero que todos saibam a heroína que esta mulher foi, a mãe que foi exemplo para todas as outras, o ser humano manchado pela crueldade de quem se acha superior ao semelhante. Sabíamos tudo sobre Andreia desde a primeira vez que respirou. Na verdade, já a conhecíamos antes de nascer e até de ter um nome definido. Antes de ser Andreia Gomez, já por nós era tratada por Luz, designação pensada simbolicamente. Luz – ou Andreia, como preferirem, eclodiu de um amor como tantos outros, entre uma mãe portuguesa e um pai po

Luz

Deitada na marquesa ao centro da câmara, esperava pelo início do teste. Recordava certamente o facto de ter sido escolhida entre milhares para esta experiência; como a sua vida mudara nos últimos dois anos; as caras deliciosas dos seus três filhotes; o hospital onde era médica nas urgências; os dois milhões que foram depositados na sua conta. Fora espiada desde o nascimento, eram-lhe conhecidas todas as rotinas. A personalidade foi minuciosamente dissecada e estudada. Pontualmente foi sendo testada e orientada, sem saber, para situações tensas e perigosas. Uma marioneta que, apesar de tudo, respondeu de forma notória às dificuldades que a vida – uma mentira pegada – lhe trouxe. Esta é a história de Luz (Andreia Gomez), uma mulher escolhida para ser cobaia de uma humanidade obcecada em ultrapassar o Medo Absoluto. Para acompanhar a partir de hoje, aqui, no Digo-te.