Avançar para o conteúdo principal

Sol ou sal

Só tenho uma certeza: gosto de ti. Não sei se por bons ou maus motivos, se me fazes bem ou mal. Mexes comigo, isso é certo. De uma maneira que me intriga, que me faz perguntar a quem não sabe responder. Parece sempre a minha vez de ir ao quadro e não faço ideia sobre o que escrever. És sol e sal ao mesmo tempo?

Podes bem ser o sol. Chegas para tudo, chegas-me de todos os lados. Refletes em todos os que falam para mim. Vejo-te lá fora, nas árvores, nos prédios, na água. És o sol que me dá cor, que torra nas tardes de verão, que me aquece o coração no inverno quando espreitas através das nuvens negras.

Só tu dás sentido à minha sombra. Dás-me energia limpa, renovável a cada sorriso, a cada olá, a cada toque. Algo me diz para ter cuidado contigo mas não quero saber. És tão quente, tão brilhante, tão aconchegante que até o teu queimar me parece saber bem.

Mas… e há sempre um mas nesta vida.

A porcaria de uma letra muda tudo. Não serás tu apenas sal? Aquele que me engana ao senti-lo? Que supostamente me conserva, estando no entanto a corroer-me as veias? Não podes ser tu quem derrete ferro como manteiga, quem me mata aos bocadinhos enquanto me diz que vamos viver para sempre?

Estás presente nas minhas lágrimas de tristeza. Abraças-me e choras comigo mas não estarás na origem dessas trevas? O sal que me equilibra as sensações e me diz que não deve ser tudo doce. Que como humanos, devemos sofrer e experimentar as sensações negativas porque elas fazem parte e não podem ser substituídas por sentimentos aromáticos que apenas pretendem mascarar a tua falta. És tu quem me dá gosto à vida, que tornas tudo mais apetitoso, que me levas o pensamento para longe do politicamente correto.


Sol ou sal. Quem és tu?

Comentários

Os mais vistos do momento

Os malucos do riso

Porque somos tolinhos se rimos sozinhos? A questão rima mas impõe-se nos dia de hoje. Quem mostra os dentinhos ao mundo sem que expresse visivelmente o motivo é porque tem um parafuso a menos, bebeu uma garrafa de moscatel ou experimentou o louro tostado que oferecem no Rossio. Será? Pois bem, eu chamo tolinhos aos que censuram estes risos ou sorrisos. Entendam de uma vez por todas que quem ri sozinho é porque, na verdade, não o está. E não, não está com uma piela. Ouviu uma música na rua que fez lembrar-lhe um rosto, viu um carro que o transportou para uma viagem, sentiu um aroma que lhe reavivou um beijo. Mas não, ficam todos a olhar para o maluquinho. Se estivesse a chorar, iam ter com ele para perguntar o que se passa. Mas como ri, ninguém quer realmente saber e preferem fazer troça da situação. Quem sorri na rua sabe porque o faz. Leva à sua volta uma aura de otimisto, de energia positiva que os outros deviam reconhecer, apesar de não saberem a origem. É verdade que ...

Chegou!

Todos esperam um ano por ele. O Verão sabe como nos conquistar. Faz uso das suas características para que estejamos ansiosos pela sua chegada. Para qualquer estudante, Verão rima com férias, e logo as “férias grandes”, que, mesmo tendo esse nome, esgotam-se num instante. Chega então de aulas, de livros, de professores e de ter de acordar cedo. Um dia de férias digno desse nome, começa ao meio dia e acaba às 6 da manhã, numa qualquer discoteca, com boa música, boa gente e, claro, gente boa também, para animar! Mas o Verão significa muito mais do que isso. Praia, por exemplo. Há mar e mar, há ir e… não voltar! Era o que apetecia muitas vezes, ficar ali o resto da vida, a absorver os raios solares e a brisa marítima. A jogar futebol, voleibol, ou às cartas, a ler um livro, a ouvir música, a mexer na areia ou na água, a mergulhar, a surfar, a boiar, a conversar, a brincar, a caminhar ou a correr. Tantas coisas que podemos fazer na praia, que davam uma linda vida. Mas o Verão tem mais! Enq...

Ela é 96

Escrevi aqui, há quase dois anos, um texto sobre aquelas coisas minúsculas que nos impedem de seguir em frente. “ Há sempre algo ” que não controlamos e que aumenta o atrito na estrada para a meta. Hoje trago um problema ainda maior: quando os entraves que surgem à nossa frente foram lá colocados… por nós próprios. Estou a falar daquelas desculpas bem criativas, daquela preguiça que ataca no momento mais inoportuno, daquela Dona Inércia que dava a cara num anúncio ao falecido BES. E é precisamente num banco que nos sentamos enquanto pensamos o quão fantástico era estar de pé. Faz pouco ou nenhum sentido, mas é assim. Conseguimos encontrar no mais pequeno pormenor uma razão do tamanho do mundo para não avançarmos. Vemos em qualquer cisco uma duna imensa de areias movediças. Pedimos uma semana para decidir algo que nos tomaria 10 segundos a refletir. E acabamos por não lhe ligar porque ela é 96.