Tal como um pão de ló se parte às fatias para dar para
todos, também a vida se divide em ciclos, pelo mesmo motivo. Temos um bocadinho
disto e logo depois seguimos para aquilo, rapidamente, para ver se não
apanhamos grande fila.
Os ciclos estão por todo o lado e não há como fugir deles.
São janelas que se abrem pela fresca da manhã e se fecham à noite para os
mosquitos não entrarem. Há ciclos que se repetem, como quando chumbamos no 5º
ou 6º anos, e outros que só acontecem uma vez, como a passagem de Aimar pelo futebol português.
Queiramos ou não, saltamos de ciclo em ciclo. O problema é
que nem sempre podemos escolher em qual aterramos, e alguns fecham-se mesmo à
nossa frente. Foi precisamente o que me aconteceu.
Tenho a perfeita noção de que, há algumas semanas, fechou-se
um ciclo no qual nunca entrei. Fiquei simplesmente a vê-lo rodar, naquela do “ver
no que dá”. Talvez tenha gasto demasiado tempo a conferir o oxigénio antes de
mergulhar e a verdade é que acabei por chegar a terra sem ter posto os pés na
água.
Parece-me que este foi um ciclo único, uma oportunidade
singular que raramente, muito raramente, calha duas vezes à mesma pessoa e hoje
percebo que, na hora do fecho, era esse o motivo que me fazia doer aqui dentro.
É incrível como este é um dos únicos momentos em que gostava
de não ter razão, ainda que a tenha quase sempre. Ciclicamente, vá.
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