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A brincar, a brincar


É do conhecimento do magnificente leitor que aqui o je não vai à bola com provérbios e expressões. Mas, qual Carlos Cruz, também eu me vou entregar. Não porque andei a jogar à macaca com quem não devia, atenção, mas apenas porque há uma expressão digna da minha inesgotável mas preciosa simpatia.

Das duas uma: ou o sumptuoso leitor é adivinho ou simplesmente leu o título. “A brincar a brincar” é das mais belas pérolas da língua cá do burgo e eu confesso que só não a uso ao pescoço presa num fio de coco porque está a chegar o calor e quero bronzear a minha zona peitoral.

A inocência de um simples “a brincar a brincar” é tanta que esta expressão pode ser usada em qualquer circunstância. Desde um funeral:

“A brincar a brincar foi contra um camião”

Passando por uma conferência de imprensa:

“A brincar a brincar podíamos ter perdido o jogo”

Até dentro de outra expressão:

“A brincar a brincar se dizem as verdades”

Experimente, faustoso leitor, dispor de tal vocábulo no seu discurso do dia a dia, e vai ver que, a brincar a brincar, tudo se torna mais fácil. O ser que vos escreve já safou a pele em várias situações à conta disto. É uma ótima maneira de contar a alguém algo doloroso, chocante ou desagradável. Basta um “a brincar a brincar” antes, e a seguir tau! Corta-se completamente o ambiente, dá-se um murro na mesa, inverte-se o clima, raios e coriscos, Vade retro, pé-de-cabra, já está, já está, e não há nada a fazer.

A brincar a brincar, alteramos completamente o tom da conversa. Mas como usámos a expressão, a coisa não parece tão violenta.

“A brincar a brincar, o réu é acusado de 720 crimes de abuso sexual de menores!”

“Meritíssimo, a brincar a brincar, tantas vezes o cântaro vai a Elvas…à fonte que algumas vez há de partir!”.

A brincar a brincar, esta foi umas das coisas mais execráveis que escrevi.

Comentários

Anónimo disse…
"Ridendo Castigat Mores" - Gil Vicente Auto da Barca do Inferno.

Beijos oh Filosofo!
Joana

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