AVISO: se o leitor ainda acredita no Pai Natal e/ou na heterossexualidade de Joaquim Monchique, por favor abandone imediatamente este blogue. Vá, eu sei que não acredita na segunda hipótese. Mas mesmo assim poderá ficar chocado com o texto seguinte. Considere-se avisado.
Estava agora a imaginar como deve ser a vida do homem que mais presentes dá às crianças do mundo inteiro. Não, ele não tem nada a ver com a Casa Pia. Estou a falar, claro, do Pai Natal. O velhinho barbudo vestido de vermelho, com um saco às costas. Aquilo deve dar umas dores bem fortes no final do dia! Pergunto-me se terá ADSE, afinal é funcionário público.
Desde cedo deixei de acreditar no Pai Natal. E por uma simples razão: conhecia crianças da minha idade que tinham em casa uma lareira com recuperador de calor! Ok. Um homem de coração grande, que vive no Pólo Norte, que voa num trenó e que distribui presentes pelo mundo inteiro numa só noite, tudo bem! Agora, o Pai Natal atravessar vidro? Não me parece.
Mas acredite-se ou não, esta é uma figura ligada ao Natal e à tradição dos presentes. E por isso, imagino a sua vida atarefada e cheia de trabalho! Para já, o Pai Natal tem um azar do caraças: os saldos começam DEPOIS do Natal. E com os preços estão a subir desta maneira, qualquer dia veremos o velhote com o fato cheio de patrocínios, tipo camisolas dos clubes, só que com marcas de rações para renas. Ninguém me tira da cabeça que toda esta bondade do Pai Natal para com os miúdos resulta de um trauma de infância. Por isso, caro leitor, vou contar-lhe, ainda que resumidamente, a verdadeira história do Pai Natal! Preparado?
Há muito, muito tempo, (ainda não existia sequer Pai Natal, lá está!) um pequeno rapazinho - vamos chamá-lo Hartur (ainda não existiam sequer acordos ortográficos, lá está!) – contava os dias para a noite da consoada! Vivia com o pai, a sua única família, e sabia que recebia sempre um pequeno presente de madeira, sem nunca se perguntar de onde vinha. Mais ou menos como quando vemos um avião da CIA aterrar em Portugal, com árabes algemados a sair de lá, mas não ligamos (ainda não existia sequer o Wikileaks, lá está!). Sonhava ter um pião novo. Perdera o que recebeu no ano passado, tendo confessado ao pai que o atirou a um colega de escola quando este garantiu acreditar na heterossexualidade de Joaquim Monchique. Hartur contava tudo ao pai, não descobrira ainda a mentira (ainda não existia sequer José Sócrates, lá está! Pronto, pronto. Eu prometo que fico por aqui).
Acontece que nessa consoada, quando Hartur recebeu o pião novo que tanto queria, aconteceu aquilo que nunca havia acontecido. Lembrou-se e perguntou ao pai se foi ele que lho deu. Repentinamente,o pai ficou sem resposta, muito pálido. Parou de mastigar e ficou quieto, com os olhos muito abertos na direcção de Hartur, como se este o estivesse a sufocar com aquela simples pergunta. E nisto, cai para o lado, inanimado. Morto. O pai de Hartur havia morrido sufocado. Não pela pergunta do filho, mas por um osso de galinha que lhe ficou atravessado na garganta. Triste destino. Ficou apenas o som da velha tv, a dar o Sozinho em Casa. E agora? Hartur nunca iria saber quem lhe deu aquele pião. Poderia uma criança ficar sem resposta a uma pergunta destas?
Hartur reflectiu. "De agora em diante, nenhuma criança ficará sem saber de onde vêm os seus presentes, pois serei eu mesmo a dá-los" – concluiu. E assim foi. Esperou até aos 18 anos, tirou a carta de trenó e foi ao De Borla comprar um fato de carnaval vermelho. Adoptou o nome "Pai Natal" em homenagem ao seu pobre velho falecido. E ao longo dos tempos, na noite de 24 para 25 de Dezembro, arranca um sorriso cheio de dentes de leite por esse mundo fora.
FIM
É tempo de o leitor limpar as lágrimas, afinal acabou tudo em bem. E sabe que mais? Afinal eu até acredito no Pai Natal. Não sei bem se é o Hartur, mas recebo pequenos presentes todos os dias, vindos de várias pessoas. Também elas me despertam verdadeiros sorrisos e me fazem pensar que é Natal todos os dias. E, para todos os efeitos, não tenho recuperador de calor.
Feliz Natal
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Payaso!