Quando era miúdo tinha um hábito estranho para as crianças daquela idade. Quando ia para a cama – ou melhor, quando me obrigavam a ir – ligava o rádio da mesinha de cabeceira para ouvir algo antes de dormir. E ficava aborrecido quando apenas havia música, sem palavra, porque a TSF só dava as notícias de meia em meia hora. Mas, pouco antes, passava uns segundos de publicidade, e aí já me sentia mais confortável. Já não estava sozinho naquele quarto escuro e parecia que tinha alguém ali comigo. Este texto é sobre uma situação semelhante. Quando se está longe de casa, é como se na rádio apenas passassem coisas que não são para ti. Iguais para todos, descaracterizadas, sem um toque pessoal. E, finalmente, quando te pões a caminho dos teus, mesmo com uma viagem longa pela frente, começas a ouvir a tal publicidade, que te diz que tudo o que queres vem já a seguir, que aquela pessoa está logo ao virar da curva, que algo ou alguém está ansiosamente à tua espera. O mesmo acontece quand
Um blogue aos olhos de um moscatel com duas pedras de gelo